Buscar no Cruzeiro

Buscar

Filmes da Netflix: “O dilema das redes” (Parte 3 de 7)

23 de Outubro de 2020 às 00:01

Filmes da Netflix: “O dilema das redes” (Parte 3 de 7) As instalações do Facebook no Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Dá-se o nome de “Viés de confirmação” à nossa tendência de interpretar ou pesquisar informações que confirmem nossas crenças ou hipóteses de partida, sejam elas reais ou fantasiosas. “Dilema das redes” demonstra que, a fim de obter nosso tempo e nossa atenção, as mídias sociais se utilizam dessa tendência enraizada no ser humano. O indivíduo permanece ligado para confirmar suas crenças. As mídias não pretendem informar fatos, mas distorcê-los de acordo com o interesse do usuário. São tão sedutoras que a enorme massa de pessoas que sofre de dependência tecnológica, nega de forma veemente que esteja viciada.

Por causa da atuação das redes sociais, deixamos de ser indivíduos autônomos e independentes e passamos a ser guiados por informações que podem ser falsas ou não. Por essa razão, não compreendemos que existam indivíduos que pensem tão diferente de nós, se têm as mesmas informações a que temos acesso. A explicação é que elas não estão vendo o mesmo que nós, estão vendo o que as redes concluíram que atendam a seus interesses. Estamos sendo programados em um nível tão profundo, que mesmo indivíduos esclarecidos não se dão conta de que estão sendo conduzidos para caminhos que não os beneficiam, que podem ser lesivos aos seus próprios interesses e nem beneficiam a sociedade. A atuação do Youtube, Facebook, Whatsapp etc. é tão absurda quanto seria a atuação da Wikipedia de dar, para o mesmo verbete, definições diferentes para cada indivíduo, de acordo com suas crenças

Mas, como é possível que essas mídias consigam saber como pensamos?

É que elas se utilizam de computadores enormes, de altíssima capacidade de processamento, para calcular o que é perfeito para cada um (o filme mostra um pavilhão desses processadores). Nossos “curtir”, nossas opiniões, nossas pesquisas alimentam esses computadores de modo que eles descobrem nossos interesses e nossas crenças e acabam nos conhecendo melhor do que as pessoas com quem nos relacionamos e até de nós mesmos. Para cada um de nós, os computadores fornecem informações que atendam nossa visão de mundo, sem qualquer filtro para determinar se são falsas ou verdadeiras. Disparates como o da Terra plana, o de que a ameaça climática é uma farsa, as bestidades sobre origens e curas da Covid 19 etc. são propagados por pessoas convencidas da sabedoria dessas ideias, porque foram colhidas nas redes sociais. Elas perderam a capacidade de discernir que, nesses assuntos e em muitos outros, opiniões pessoais nada valem, porque são temas que devem ser estudados por especialistas.

Da mesma forma que a tecnologia da informação leva pessoas a acreditar que a Terra é plana, pode levá-las a acreditar em qualquer asneira. Se pesquisarmos no Google o preço de uma camiseta, as mídias nos mostrarão anúncios sobre camisetas de vários tipos e modelos, mesmo depois de efetuarmos uma compra. Mas, os danos provocados pela tecnologia começam quando, ao invés de camiseta, elas nos informam sobre crenças políticas, religiosas, “científicas”, “históricas” etc., porque o mesmo poder de persuasão usado na publicidade é usado para reafirmar nossas ideias sobre esses assuntos, por mais amalucadas que elas sejam.

Continua na próxima semana.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.