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Filme ‘Todos já sabem’ mostra as vísceras da família (1)

18 de Abril de 2019 às 23:49

Filme ‘Todos já sabem’ mostra as vísceras da família (1) O diretor Asghar Farhadi (de óculos) e os atores, a partir da esquerda: Ricardo Darín, Penélope Cruz e Xavier Barden. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Em 2017 exibi na Fundec cinco filmes do diretor iraniano Asghar Farhadi: “Fireworks wednesday”, “Procurando Elly”, “A separação”, “O passado” e “O apartamento”. Em 2018, Farhadi dirigiu este “Todos já sabem” (Todos lo saben), que exibiremos na Fundec na sexta-feira da próxima semana, dia 26.

Laura é uma espanhola que vive na Argentina com seu marido e com seus dois filhos -- uma adolescente, Irene, e um menino. Ela viaja com os filhos à Espanha para assistir ao casamento de sua irmã Ana e se hospeda na casa da família. O patriarca da família, Antonio, é um velho com dificuldade de locomoção. No passado, suas terras eram extensas, mas foram sendo dilapidadas no jogo de pôquer. É um homem ressentido, sempre raivoso, dado ao vício do álcool e que culpa os outros por sua decadência atual.

Antonio tem três filhas: Laura, Ana e Mariana, a mais velha. Esta é uma mulher mal-humorada de meia idade, casada com um indivíduo pouco conceituado na família por sua limitada capacidade de trabalho.

O casamento de Ana é comemorado com muita dança e alegria, na propriedade da família de Laura. Todos demonstram interesse pela saúde e bem-estar dos outros, são gentis e se sentem felizes com os reencontros depois de um tempo afastados. Mas, o desaparecimento de Irene do seu quarto, durante a noite da festa, transforma a alegria em preocupação de alguns, desespero de outros. Saberemos então que ela foi raptada. No celular de Laura, a mãe de Irene, começam a chegar mensagens aterradoras dos sequestradores, ameaçando que a jovem será morta se a polícia for comunicada. Mensagens idênticas são mandadas à esposa de Paco. Este era filho de um antigo empregado na propriedade da família e, no passado, havia namorado Laura.

A partir do rapto, o filme passa a girar em torno de como resgatar Irene, sem a intervenção da polícia. Um policial aposentado procura desvendar a identidade do raptor; ele aponta quase todos como suspeitos e, como em filme de Agatha Christie, todos parecem ter variadas razões para patrocinar o sequestro, principalmente envolvendo interesses em dinheiro e velhos ressentimentos. As hábeis indagações do ex-policial desconcertam os interpelados, porque segredos familiares vão vindo à tona. Em alguns momentos do filme, sombras de figuras humanas parecem observar os movimentos das personagens.

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Para escrever sobre “Todos já sabem” penso que será de grande ajuda discorrer brevemente sobre as principais conclusões a que cheguei sobre os cinco filmes de Farhadi citados acima. Vou tratar apenas de alguns poucos pontos. Peço a compreensão do leitor se repito abaixo algumas noções expostas anteriormente nesta coluna.

Os cinco filmes de Farhadi anteriores a “Todos já sabem” tratavam primordialmente dos vínculos de casais em que se articulam as contraditórias ligações de afeto e hostilidade, de felicidade e martírio, de alegria e sofrimento presentes em todas as relações de casais. Com exceção de “O passado”, os casais eram formados de iranianos de classe média.

Continua na próxima semana