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Filme ‘A partida’ será exibido hoje na Fundec

03 de Maio de 2019 às 00:01

Filme ‘A partida’ será exibido hoje na Fundec Daigo, à esquerda, e o chefe: contato com mortos que ajudam a entender a vida. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Toda comunidade se caracteriza por um conjunto de construções sociais a que chamamos de realidade social ou cultura: são leis, valores, regras, crenças, costumes estabelecidos por lei ou de forma consensual na comunidade, como casamento, sexualidade, família, etc. Essas construções sociais são criações seculares dos indivíduos de uma comunidade, mas para eles parecem verdades absolutas. Por isso, temos a tendência de acreditar na “lógica” de nossas instituições e na estupidez das instituições de outras sociedades.

Um dos aspectos mais intrigantes da cultura dos japoneses é sua relação com a morte e muito já se escreveu sobre o assunto, como o leitor poderá ver na internet. Já assisti a algumas centenas de filmes japoneses e, ainda assim, aquela relação para mim é um mistério. Isto porque é um tema que não pode ser devidamente compreendido fora do contexto social japonês. Explicações simples e precipitadas não são adequadas para compreender, por exemplo, o ritual que cerca o seppuku (vulgarmente conhecido como haraquiri), o suicídio de um guerreiro samurai; ou pra explicar a atitude dos camicases - pilotos de aviões japoneses carregados de explosivos que se precipitavam contra navios dos aliados na Segunda Guerra Mundial.

Estou escrevendo este preâmbulo porque o considero oportuno para assistir ao filme “A partida”, do diretor Yojiro Takita, de 2008.

O protagonista do filme é Daigo, um violoncelista que fica sem emprego quando a orquestra em que tocava vai à falência. Com dificuldade de obter um novo trabalho, Daigo vende o violoncelo que recentemente havia adquirido a alto preço e decide retornar com a esposa Mika à casa da sua infância, que fora deixada por sua mãe falecida. Lá, vê um anúncio de jornal oferecendo ótimo salário por um emprego que parece ser em uma agência de viagens, porque fala em “partida”. Na entrevista, porém, descobre que “partida” tem outro significado, uma vez que sua função será a de auxiliar o chefe na preparação de corpos de recém-falecidos, por meio de uma série de normas e rituais, para torná-los com expressão de pessoas com vida. Premido pela necessidade de dinheiro, aceita o emprego, que é socialmente malvisto e, por isso, esconde da própria esposa porque certamente a chocaria. Mika está feliz na nova casa, mas quando descobre como Daigo ganha a vida, resolve abandoná-lo, embora o ame.

Ainda que cuide de mortos, Daigo começa a aprender lições sobre a vida, graças ao conhecimento de histórias que vai vivenciando, às variadas reações de parentes e amigos dos finados de várias crenças religiosas. Ele sente a falta da esposa, mas o trabalho adquire para ele um significado de nobreza. O poeta e romancista japonês Shinmon Aoki, autor do livro de memórias que inspirou o filme era, ele mesmo, agente funerário e embalsamador.

Em vários momentos, o filme tem passagens cômicas, mas é, fundamentalmente, um filme humano, porque traz situações que fazem aflorar as emoções do espectador.

Serviço

Cine Reflexão

‘A partida, de Yojiro Takita

Hoje, às 19h, na Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73, Centro)

Entrada gratuita