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Ficção científica no cinema (6)

25 de Janeiro de 2019 às 11:54

Filme “1984”, de Michael Radford, baseado no livro de George Orwell. Como na atualidade, a tecnologia controla e vigia os humanos. Foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Na obra do filósofo político, historiador do pensamento político e escritor italiano Norberto Bobbio existe a tendência a assumir a estreita relação entre os conceitos de liberalismo e democracia. Para Bobbio, o que caracteriza o regime político moderno como democrático é a existência dos clássicos direitos de liberdade civis e políticas associados ao pensamento liberal: a liberdade de opinião, de expressão, de reunião, de associação. O liberalismo seria o fundamento do governo democrático moderno.

O historiador israelense Youval Harari afirma que a maioria dos humanos nunca usufruiu de maior paz e prosperidade do que sob a ordem liberal do início do século XXI. Mas o liberalismo não tem respostas atuais para os maiores problemas que a humanidade enfrentará em duas ou três décadas: o do colapso ecológico e o da ameaça tecnológica. O liberalismo baseou-se no crescimento econômico para resolver conflitos sociais e políticos, mas o crescimento econômico -- além de agravar a crise ecológica - tende a agravar a ameaça tecnológica, uma vez que pressupõe a invenção de mais e mais tecnologias que produzirão mais e mais seres irrelevantes.

Harari pergunta se o liberalismo será capaz de se reinventar diante desses desafios. Ou se a religião e o nacionalismo tradicionais estruturarão uma visão de mundo atualizada que dê as respostas que os liberais são incapazes de oferecer. Ou ainda, se surgirá uma ideologia completamente nova.

Por meio da tecnologia, a democracia vem sendo enfraquecida pelo liberalismo econômico. A democracia se fundamenta nos sentimentos e decisões dos seres humanos e funcionará enquanto ninguém poderá acessar seus sentimentos. Mas, o que acontece quando algumas poucas pessoas, empregando a tecnologia “Big Data” (processamento e armazenamento de grandes conjuntos de dados), conhece seus padrões emocionais o suficiente para torná-lo feliz ou odiento ou direcioná-lo para votar em um político que o prejudicará?

Em artigo da BBC News de Londres de 9/4/2017, Martin Hilbert, guru do Big Data, afirma que, “despreparada para a era digital, a democracia está sendo destruída”. Vivemos em um mundo onde políticos podem usar a tecnologia para mudar mentes e em que algoritmos das redes sociais conseguem decifrar nossa personalidade. Diz também que com 250 “curtir” o algoritmo do Facebook pode prever sua personalidade melhor que seu parceiro.

O jornal londrino The Guardian de 23/3/2018 divulgou o depoimento de Brittany Kaiser, antiga funcionária da empresa britânica Cambridge Analytica, que revelou pormenores da estratégia que a empresa usou para ajudar Donald Trump a vencer as eleições de 2016 usando plataformas digitais como o Google, Snapchat, Twitter, Facebook e YouTube. O Globo Mundo, em 27/3/2018, divulgou que Christopher Wylie, também ex-funcionário da mesma empresa, utilizando dados de 50 milhões de usuários do Facebook, teve um papel crucial na votação a favor do Brexit.

O fato é que nossa privacidade nos foi subtraída.

Continua na próxima semana