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Ficção científica no cinema (5)

18 de Janeiro de 2019 às 12:23

“Elon Musk, fundador da Tesla Motors, um dos bilionários do Vale do Silício que preconizam a renda mínima universal”. Foto: Divulgação

Concluímos o artigo da semana passada afirmando que, para o historiador Yuval Noah Harari, hoje ninguém sabe o que deverá ser ensinado nas escolas frente às enormes mudanças esperadas até 2050. Muitos dos empregos atuais desaparecerão e os novos que surgirão exigirão conhecimentos, educação, treinamento, engenhosidade e criatividade diferentes dos que são requeridos hoje.

Harari aponta os três grandes desafios do mundo atual: a guerra nuclear, o colapso climático e a ameaça tecnológica. Todos entendem que a guerra nuclear e o colapso climático devem ser evitados a todo custo. A ameaça tecnológica é a mais incompreensível e existem muitas razões para que sejamos empurrados mais e mais na sua direção, porque os benefícios da tecnologia foram enormes nas últimas décadas. Eles propiciaram a eliminação do flagelo da fome no mundo e hoje morrem três vezes mais pessoas por ingerirem excesso de comida do que por desnutrição; a fome que existe em muitas partes do globo não é causada pela falta de tecnologia para erradicá-la, mas por incompetência política. A probabilidade de morrer por obesidade é milhares de vezes maior do que morrer vítima de um ataque terrorista.

Mas, a tecnologia tem o potencial de gerar enorme sofrimento àquelas bilhões pessoas que se tornarão irrelevantes. A capacidade de consumir e a sobrevivência dessas pessoas poderia, por exemplo, ser garantida pelos Estados por meio de um programa de renda mínima para despesas de alimentação, moradia e saúde de seus cidadãos -- ideia que vem ganhando espaço no mundo e é sugerida, entre outros, por fundadores das grandes empresas de tecnologia como Mark Zuckerberg, do Facebook. Mas, seja qual for a solução encontrada, ela passará pela necessidade de desenvolver no ser humano o “ideal secular”.

O ideal secular é entendido por Harari como o compromisso com a verdade e não com as crenças. A verdade se baseia em observações e evidências. Nacionalismo, religião, cultura e posição política não são verdades, são crenças que dividem os homens em campos hostis.

A ética secular se baseia em uma profunda preocupação com o sofrimento, porque reconhece que ele é uma verdade e não uma crença. Não se deve matar, estuprar, ou deixar bilhões de pessoas sem poder sobreviver porque um Deus proíbe, mas porque provoca sofrimento. A educação secular não deve proibir crianças de acreditarem em Deus e participarem de cerimônias religiosas ou amarem sua pátria ou sua cultura. Ela deve ensinar a apreciar a sabedoria e as experiências de todos os humanos, a distinguir verdade de crença e a desenvolver a tolerância e a compaixão por todos que sofrem - independente de religião, etnia, nacionalidade etc.

Hoje estamos desenvolvendo habilidades humanas principalmente em função das necessidades imediatas do mercado. Para Harari, o desenvolvimento da inteligência artificial deveria andar junto com a conscientização humana sobre o potencial de sofrimento inerente à tecnologia e com o desenvolvimento da compaixão por esse sofrimento.

* Continua na próxima semana