Ficção científica no cinema (10)
Caleb e Ava: paixão de um humano por um androide. Crédito da foto: Divulgação
Nildo Benedetti
Nos artigos anteriores que escrevi neste jornal sobre Ficção Científica no Cinema referi-me a várias ideias de especialistas da inteligência artificial e do historiador e filósofo israelense Yuval Noah, com foco especial para o que este chama de ameaça tecnológica. Para mais bem apreciarmos este “Ex machina” será útil repetir sinteticamente algumas ideias desse pensador.
Harari estabelece a diferença entre inteligência e consciência. Inteligência é a aptidão para resolver problemas e consciência é a possibilidade de sentir dor, alegria, amor, raiva. Não existe perspectiva de, a curto prazo, a inteligência artificial adquirir consciência e passar a tomar decisões por conta própria. Ela poderá, por meio de algoritmos utilizando sítios de busca como Google, Youtube etc. analisar sentimentos humanos para recomendar parceiros adequados, por exemplo, ou para conhecer nossos temores, ódios e desejos e usá-los para nos vender um produto, um político ou uma ideologia. Mas sem ter sentimentos e tomar decisões próprias.
Contudo, o sueco Nick Bostrom, professor de filosofia da Universidade de Oxford, pensa que em um dia não muito distante as máquinas adquirirão consciência e que nosso futuro seria determinado pelas preferências do que ele chama de superinteligência. Os valores que as máquinas superinteligentes assimilarão serão os valores que forem especificados pelos seres humanos. Nesse momento, diz ele, existe o risco de especificar objetivos incompreensíveis ou sem clareza, que poderão prejudicar a espécie humana.
Feitas essas observações, vamos ao “Ex machina” de 2015, do inglês Alex Garland. Um jovem programador de computadores, Caleb, trabalha na Blue Book, a mais poderosa empresa de tecnologia de busca do mundo. A Blue Book é uma versão do Google, do Facebook, Youtube e outras. Caleb foi escolhido por Nathan, gênio da inteligência artificial e proprietário da Blue Book, para passar uma semana na sua casa -- que é também um centro de pesquisas.
Nathan criou um androide (inteligência artificial com corpo de ser humano) de nome Ava, com corpo de mulher e aparentemente dotada de consciência. Ele diz que Caleb foi sorteado para submeter Ava a um teste parecido com o de Turing. Esse teste serve para comprovar a capacidade de uma máquina de exibir comportamento equivalente ao de um ser humano. Ao mesmo tempo, analisará o comportamento do humano Caleb em sua relação com a máquina Ava.
Ao cérebro de Ava foram incorporados dados de seres humanos coletados por meio dos microfones e câmeras dos celulares, redirecionados e analisados pelo Blue Book, utilizando os algoritmos de que falamos acima. Por causa disso, Ava, consegue saber, pelas expressões do rosto e tonalidades de voz, características da personalidade de Caleb, incluindo se está mentido. O jovem se apaixona por Ava e tenta libertá-la do cativeiro em que Nathan a mantém.
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Na próxima sexta-feira, dia 1º, terminarei esta série de artigos sobre tecnologia. Não haverá sessão na Fundec por causa de Carnaval.
Serviço
Cine Reflexão
“Ex machina”, de Alex Garland
Hoje, às 19h
Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)
Entrada gratuita