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Fevereiro, Carnaval e bissexto

27 de Fevereiro de 2020 às 00:01

Paulo Sergio Bretones

As origens do calendário, datas e festas estão relacionadas com os ciclos da natureza, desde muito tempo atrás, em várias civilizações e culturas. Antigamente o ano era contado pelo intervalo de tempo decorrido entre duas passagens consecutivas do Sol pelo Equinócio Vernal, ponto no céu onde o Sol cruza o Equador Celeste saindo do hemisfério sul indo em direção ao norte. Essa passagem ocorre no dia 20 ou 21 de março, no início da primavera do hemisfério norte.

O calendário que usamos vem do primeiro calendário romano iniciado por Rômulo, fundador de Roma em 753 a.C. Começava no início da primavera do hemisfério norte, era um calendário lunar com dez meses: martius, aprilis, maius, junius, quintilis, sextilis, september, october, november e december.

Cada mês tinha 30 ou 31 dias, num total de 304 dias. Os outros 61 dias, como coincidiam com o inverno do hemisfério norte, não eram considerados e acompanhados no calendário desta época do ano.

Ainda no século VII a.C., havia um atraso de 51 dias com relação ao início das estações. Na época, o imperador Numa Pompílio criou mais dois meses: Janeiro e Fevereiro e também criou um 13º mês, o Mercedônio, para ajustar o calendário às estações do ano. Mas as intercalações do 13º mês eram feitas de maneira desorganizada. Em 46 a.C. o calendário estava defasado em 80 dias com o início das estações. Assim, o imperador Júlio César chamou o astrônomo e egípcio Sosígenes, da Escola de Alexandria, para fazer uma reforma. Aquele ano teve 445 dias, 80 dias a mais, no chamado “Ano da Confusão”.

Na época, no “Calendário Juliano”, o ano tinha início no dia 1º de Janeiro, com 365 dias e 1/4, divididos em 12 meses de 30 e 31 dias, com exceção de fevereiro, que tinha 29 dias, passando a 30 nos anos bissextos onde a cada quatro anos seria somado o 1/4 de dias perfazendo um dia a mais, ou seja, com 366 dias. Mas o curioso é que este nome “bissexto” não vem do fato de que seus 366 dias terminam em dois seis.

O dia do início de cada mês no calendário romano era chamado “calendas” e o dia mais importante era 23 de fevereiro, o sexto dia antes das calendas porque o último mês do ano era fevereiro.

Nesse dia sagrado e em homenagem ao deus Terminus celebravam-se em Roma grandes festas populares. Trocavam-se presentes, escravos eram libertados e promovidos espetáculos de gladiadores no circo, nas famosas termálidas, como o Carnaval. César queria introduzir este dia a mais em homenagem à deusa Februa, a deusa da purificação, e por isto o nome fevereiro.

Mas, como explicar ao povo que o sexto, o dia mais sagrado para eles deixaria de ser sexto, porque a cada quatro anos haveria um sétimo? A solução não foi difícil -- o dia que seria inserido foi considerado um “adendo” e foi chamado de “bis sexto” -- ou seja, mais um sexto. Em outras palavras, o dia intercalado seria 24 de fevereiro, ou seis dias antes das “calendas” de março, assim esse dia era contado 2 vezes (bis) então sendo chamado de “bissexto ante calendas martii” que, com o tempo, passou a ser “bissexto”. Dessa forma, fevereiro ficaria com 29 dias.

No calendário juliano o mês quintilis passou a chamar-se julius, em homenagem a Júlio César e o mês sextilis foi chamado augustus em homenagem ao imperador Augusto, que aperfeiçoou o calendário juliano. Mas, dizem, como era muito orgulhoso, não quis que o mês a ele dedicado -- augustus, ou agosto -- tivesse menos dias do que julho, que homenageava Júlio César. Então, “roubou” mais um dia de fevereiro, que ficou com 28 dias, e passou-o para agosto, que ficou com 31 dias.

Ocorre que, mesmo sendo mais preciso que os anteriores, o calendário juliano ainda não era exato. Em 1582, já acumulava um atraso de dez dias em relação ao ano solar. Foi então que o papa Gregório XIII, seguindo os conselhos de astrônomos, resolveu corrigir de vez a diferença entre o calendário oficial e o solar.

Quanto ao Carnaval, a data é determinada pela data da Páscoa, que acontece no primeiro domingo após a primeira Lua cheia que ocorre após o início da primavera do hemisfério Norte. Neste ano a Páscoa será no dia 12 de abril. Assim, a quarta-feira de Cinzas é calculada como sendo 46 dias antes da Páscoa, no dia 26 de fevereiro.

Desde a antiguidade a astronomia foi determinante na construção do calendário. As datas da Páscoa, Carnaval, Natal e outras são tradições de origem pagã que foram incorporadas pelas religiões e estão presentes até hoje no calendário civil de muitos países.

Paulo Sergio Bretones é professor do Departamento de Metodologia de Ensino/UFSCar.