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FEBEPÁ, o retorno

22 de Fevereiro de 2019 às 00:01

José Feliciano

*“Vejo a expansão territorial, a paz política e a prosperidade nacional, mas, internamente, tudo aqui está podre. A idolatria encontra-se em voga. A sociedade esbanja-se à procura dos prazeres. A hipocrisia e a imoralidade grassam. A prostituição ritual faz parte desse culto. Alcoolismo, violência, grosseria, sensualidade constantes. O sistema judiciário corrompendo-se e a opressão aos pobres é lugar-comum...”

Febeapá -- Festival de Besteira que Assola o País --, coluna de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sergio Porto, anos 60 no jornal Última hora, divertia o leitor com as bobagens ditas ou publicadas nos jornais durante o regime militar. O Febeapá nunca deixou de estar presente em nossas vidas. Com o agravante que o nível das besteiras só aumentou quando a pouca inteligência alcançou as redes sociais, desde conversas entre personalidades até presidente e ministros só engrossam o festival de besteiras.

Quase sem opção estamos antenados a toda sorte de besteiras nas redes sociais, televisões, jornais e mídia afins. Mesmo com o mundo interligado vivendo a era da comunicação é difícil não trombar com notícias que parecem resultado da absoluta falta de bom senso, ou refinado(?) mau gosto ou até uma bem orquestrada conspiração em favor da idiotice. Está claro que informação demais desinforma, confunde, atrapalha. É disso que vivem governos e governantes, empresas e golpistas, atentos ao desespero primitivo de nos comunicar, uma necessidade que se encontra desde a antiguidade em cavernas. O problema é confundir “ser bem informado” com “ser culto”, nem sempre essas duas características estão presentes no mesmo indivíduo, talvez raramente. O maior problema do pensamento é sua proximidade “geográfica” com a boca. “Informativos dependentes”, navegamos pelas notícias e vamos descobrindo pérolas e porcos, as vezes misturados e indistinguíveis.

FEBEPÁ, o retorno

(Catraca livre)

Nesta notícia acima os “mortos que andavam pelo elevado que desabou” tiveram melhor sorte que as outras vítimas. Outra notícia afirma que: “Um sujeito injetou sêmen no próprio braço” (G1-notícia\UOL\ESTADO), com a intenção de livrar-se das dores na coluna”. Queria ele engravidar seu bíceps? Resultado: suas dores não melhoraram e ele passou a ter muita dor de cabeça para escapar da gozação nas redes sociais. Uma outra “matéria” mostra com fotos quantos cachorros podem caber no interior de uma geladeira (MSN). Depois do cachorro quente agora o geladinho? Ou: “Vaso sanitário vaporiza as fezes para resolver problemas de saneamento” (WATERLABS). Se você esperava respirar ar fresco, esqueça! Algumas notícias desafiam nossa capacidade de ter um ataque: “Homem descobre não ser pai biológico do seu filho e que o verdadeiro pai é seu irmão gêmeo que nem chegou a nascer” (Diário de biologia, Pais e filhos), pobre criança no Dia dos Pais sem saber em quem dar um abraço. “Pessoas querem beber líquidos encontrados dentro de um sarcófago (com restos mortais) em Alexandria -- misturados com água de esgotos”, (Estadão-on-line notícias). Pelo menos trata-se de bebida envelhecida e quem sabe em sarcófagos de carvalho?

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Nesse caso os bandidos com certeza têm habilidade de atuação dramática genuínas de ladrões que fingem ser ladrões e são! E roubam! “... and the Oscar goes to...”

A quantidade de informações(?) contidas nos veículos (desgovernados?) de comunicação, alguns com credibilidade, podem ser fatos ou verdades, mas estão mais para gozação que informação. Novamente é de questionar para que servem? E qual formação tem o profissional que as coleta e quem deixa publicar? Ora, talvez seja só para nos confundir, iludir fingindo tão bem serem ignorantes quanto os ladrões que fingem ser o que de fato são: ignorantes. Poderia ser uma conspiração para nos confundir e aumentar as besteiras do mundo? Russos, chineses, hackers, mas é pouco provável. Talvez o problema esteja em nós leitores, intoxicados de tanta notícia a tal ponto que nos deparamos com essas coisas e não nos damos conta de sua inutilidade, tempo é dinheiro, tempo perdido é vida a menos. Será anestesia? Indiferença? Ou o mundo está tão maluco que fica difícil separar ficção de realidade, verdade de mentira? Com tantas besteiras o risco é a qualidade do leitor desatento se igualar a essas notícias.

* Citação acima atribuída a Amós (Am 4.11 e 12.), que viveu no século 8 A.C. -- o mundo mudou pouco e talvez tenha piorado...

Às vezes você passa vida inteira esperando o Príncipe encantado e só vem o cavalo.

FEBEPÁ, o retorno

José Feliciano - Redator de humor e mistérios -- médico de parque de diversões.

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