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Existe idade ideal para iniciar a prática esportiva?

24 de Janeiro de 2020 às 00:01

Crédito da foto: Arquivo/AFP / Wang Zhao

Tulio Pereira Cardoso

Primeiramente é importante saber que a prática esportiva não competitiva pode ser definida como atividade física e resume-se a gestos naturais como caminhar, correr, pular, chutar, todos executados de forma lúdica. São o que chamamos de brincadeira de criança, e não tem idade para começar. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda iniciar atividades físicas como brincadeira não focando em competição.

Já a prática esportiva como atividade específica, implica jogos de natureza competitiva (ganhar e perder) e exige alguma maturação músculo esquelética e neurológica. Futebol, basquete, vôlei, natação e tantas outras formas de prática esportiva requerem treinamento especializado e orientado por profissionais de Educação Física. É importante respeitar uma série de critérios, entre eles se a criança ou adolescente realmente gosta daquele determinado esporte, ou se está apenas atendendo um sonho, ou pior, uma exigência dos pais. Existe também a questão do talento ou habilidade individual. Nem todos têm aptidão ou perfil físico e emocional para determinados esportes.

O nome Educação Física remete a estimular de forma profissional, educada, a prática de atividades físicas e esportes, e deve respeitar a vontade da criança mas também incutir disciplina.

Não há dúvida quanto aos benefícios da prática esportiva. Promove o desenvolvimento de ossos, articulações e músculos mais fortes, estimula o sistema cardiovascular, melhora equilíbrio e coordenação e evita a obesidade. Habitualmente afasta de comportamentos nocivos, como tabagismo, alcoolismo e uso de drogas. Por outro lado, parece que o desempenho acadêmico é melhor. Do ponto de vista psicológico é fator importante no controle de ansiedade e depressão.

A prática de esporte bem orientada é muito importante na formação do caráter e ensina a lidar com vitórias e derrotas, sucessos e fracassos, apontando valores, trazendo autoconfiança, ensinando o convívio social e criando laços de cooperação e amizade.

Qual o melhor esporte? Essa é uma pergunta comum no consultório. Não existe o melhor esporte, mas sim aquele que cada um consiga praticar da melhor forma. Depende, como já foi dito acima, de muitas variáveis. A primeira é se a criança gosta. Nem todos gostam de nadar. Nem todos gostam de jogar futebol. Muitas crianças tendem a prática de esportes individuais, às vezes por timidez. Não iniba um futuro campeão de salto triplo. As crianças mais extrovertidas e sociáveis tendem a buscar esportes coletivos como o futebol. A escolha deve ser delas. Se quiser fazer um favor ao seu filho, deixe ele escolher seu esporte. E também o time que vai torcer!

Nem toda criança gosta de esportes. Algumas são sedentárias por natureza ou por hábitos familiares. A televisão e o sofá podem ser hereditários. O mundo virtual com computadores e smartphones são parte da vida deles e levam muitas vezes ao desinteresse pela prática esportiva. É fundamental que os pais estimulem as atividades físicas ao ar livre dando o exemplo. Filhos de pais que praticam esporte provavelmente também o farão. Exemplo é quase tudo.

Do ponto de vista ortopédico devemos lembrar que a maturidade esquelética completa, ocorre nas meninas 2 a 3 anos após a primeira menstruação, por volta dos 15 anos e um pouco mais tarde nos meninos.

Não há uma regra rígida com limites de idade para iniciação esportiva. De forma lúdica como brincadeira, qualquer esporte pode ser iniciado em qualquer idade, mas não vamos imaginar uma criança de 2 anos lutando boxe ou realizando salto com vara. Bom senso é fundamental.

De forma geral, a partir dos 5 ou 6 anos até os 12 ou 13 anos toda prática esportiva deve-se resumir a atividade física pouco ou não competitiva. Claro que devemos estimular a criança a “ganhar” a corrida, mas não a qualquer preço. Isso pode gerar mais frustração do que sentimento de vitória. Aprender e treinar gradualmente para ganhar. As escolinhas de futebol, basquete, academias de artes marciais e natação são ótimas para esse início.

A partir dos 12 anos, o sentido de competição deve ser estimulado, e a prática de exercícios mais vigorosos pode ser melhor praticada em função da maturação músculo esquelética.

Dificilmente a prática de algum esporte cause alteração de crescimento ou desvios posturais, até porque sentindo dor, a criança para de se exercitar.

Frequentar academias de musculação, por exemplo são recomendadas a partir dessa idade, ou seja a pré-adolescência. Uma frequência de 2 a 3 vezes por semana, com duração média de 60 minutos é recomendável.

Insisto que cada indivíduo tem seu limite de tolerância e deve respeitar sua zona de conforto. A orientação de profissionais de Educação Física e a consulta regular com o pediatra ou o ortopedista são recomendáveis.

Dr. Tulio Pereira Cardoso é médico ortopedista com Título de Especialista pela Soc. Bras. Ortopedia e Traumatologia e é Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho.