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Estrangeirismo, Arcaísmo e Neologismo

11 de Abril de 2019 às 23:29

João Alvarenga

Para finalizar o estudo dos vícios de linguagem, abordado na última quinzena, focarei, os casos que são vistos como problemas de menor impacto na norma culta, a começar pelo Estrangeirismo, ou seja, o emprego abusivo de palavras importadas no lugar de termos correspondentes em Português. No entanto, devemos entender que muitos vocábulos, naturalmente, vieram por empréstimos de outros idiomas, principalmente da língua inglesa. Um exemplo banal é a palavra “clipe” (clip), invenção norte-americana para agrupar papéis. No meio político, popularizou-se a temida “impeachment”, derivada do verbo to impeach, em inglês, que foi adaptada do termo em francês, empêcher. Esse, por sua vez, originou-se do latim, impedicare (capturar, caçar).

Nesse contexto, temos ainda: brother, croissant, designer, jeans, link, cappuccino, yes, show, site, pizza, hot dog, reveillon, stop, pink, lead, layout etc. A lista é imensurável, com predominância do inglês, uma vez que se tornou o “latim” dos nossos dias, presente maioria das atividades profissionais. Além da internet, Hollywood deu uma grande parcela de contribuição para sedimentar o domínio da cultura ianque no país do Carnaval. Outro detalhe: nosso idioma é uma esponja que absolve expressões importadas com facilidade.

Desse modo, tornou-se usual os falantes optarem por substituir palavras do nosso léxico, que dariam conta do recado, na transmissão do conteúdo, por vocábulos ou expressões importadas. Tal fenômeno ocorre em nome de uma suposta modernidade ou, então, como uma tendência equivocada de se acompanhar os modismos. Logo, muitos brasileirinhos preferem empregar “delivery” (por acharem chique), no lugar de “entrega” ou, então, recorrem a “for sale”, em vez de “para venda”.

No caso da literatura, os chamados arcaísmos literários são válidos, porque as obras clássicas são o registro autêntico do momento em que foram concebidas

Nessa linha, há centenas de exemplos de desprezo à matriz lusitana, posto que, nos dias de hoje, não há quem empregue a pouco conhecida “taberna” ou “taverna”, termo oriundo das terras de Camões, para designar o popularíssimo “bar”, vocábulo trazido do território de Tio Sam. Na verdade, os dois nomes designam o mesmo ambiente: lugar onde os amigos se encontram para um momento de descontração.

Ademais, tal prática se dá pelo fato de que, na visão do poeta rio-grandense, Mário Quintana, as palavras ficam caducas e precisam de novas expressões para modernizar a língua (mesmo que seja uma ideia importada). No fundo, isso tem certa consistência, porque os gramáticos classificam de Arcaísmo o emprego de uma palavra antiga no discurso atual, processo que pode comprometer o entendimento da mensagem, caso o receptor tenha menos de 40 anos. Observem alguns exemplos: ceroula (cueca), vosmecê (você), outrossim (também), quiçá (talvez), à guisa de (à maneira de), apalermado (bobo), magote (grande quantidade), resma (soma de quinhentas folhas sulfites).

No entanto, não posso deixar de registrar que, no caso da literatura, os chamados arcaísmos literários são válidos, porque as obras clássicas são o registro autêntico do momento em que foram concebidas. Assim, é natural que apresentem palavras que, na época, tinham maior poder de abrangência e entendimento, algo que, agora, exige muito esforço de todos.

Num contraponto aos vocábulos que caíram em desuso, temos os Neologismos, exercício de criação de palavras a partir de termos já existentes, principalmente na literatura, algo que renova o idioma. Carlos Drummond de Andrade, na poesia, e João Guimarães Rosa, na prosa, foram expert nessa área. A palavra “esquipática” (junção de esquisita e antipática) é um exemplo da inventividade de Drummond. No próximo, focaremos a resistência do soneto. Até lá!

João Alvarenga é professor de Língua Portuguesa, mestre em Comunicação e Cultura, produz e apresenta, com Alessandra Santos, o programa Nossa língua sem segredos, que vai ao ar pela Cruzeiro FM (92,3 MHz), às segundas-feiras, das 22h às 24h.