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Espaço e tempo: a dimensão da mobilidade

06 de Maio de 2020 às 00:01

Marcelo Augusto Paiva Pereira

Espaço e tempo são grandezas indissociáveis e fluentes, imiscuem em todas as nossas relações, inclusive nas urbanas. Ocupamos espaços ao longo do tempo que deles usufruímos, mas não damos conta dos efeitos que causamos.

A vida urbana acontece no espaço até os limites entre o meio ambiente natural (florestas, bosques e reservas) e o artificial (cidades), o qual é desenhado pelo urbanista e planejado pelo legislador e administrador público, no cumprimento de suas atribuições.

Projetar um bairro ou uma cidade é organizá-la em uma escala maior do que a humana, com vistas ao menor tempo de percurso entre os lugares, sem prejuízo do conforto urbano que deve oferecer a todos os habitantes. Vários são os fluxos de pessoas e de veículos, que fazem as mais diversas rotas para atingirem os destinos no menor tempo e espaço.

A mobilidade urbana é uma relação de espaço-tempo necessária, mas tem sido ineficiente para o conforto das pessoas, devido ao excessivo número de veículos circulantes e da limitada malha viária.

A demasiada permanência nesses veículos pode causar alterações anímicas que poderiam ser evitadas, se não houvesse os congestionamentos que dilatam o tempo de percurso e causam prejuízo às pessoas que dependem da celeridade temporal para dar azo às atividades diárias.

Após o automóvel entrar em cena, ao final do século XIX, várias cidades foram planejadas e outras redesenhadas para acolhê-lo no espaço urbano. No passado o automóvel ofereceu a mobilidade que hoje nos faz falta.

Muitos são os projetos para melhorá-la. Dentre eles, a implantação de ciclovias é bem-vinda, mas insuficiente porque não supre as necessidades de todos. Aumentar a oferta de transporte público e construir edifícios-garagem, idem.

Erguer edifícios populares com vários andares e de uso misto em áreas urbanas consolidadas e subutilizadas, a criação de centralidades urbanas nas periferias das cidades e a acessibilidade às pessoas portadoras de necessidades especiais, contribuem para o adensamento populacional, a proximidade dos locais de habitação aos de trabalho e, também, para a preservação do meio ambiente natural.

O conjunto desses projetos e obras favorece a redução dos fluxos de veículos circulantes e da poluição ambiental. Mas não basta. Também é preciso redesenhar o espaço urbano para tornar as cidades mais convidativas ao passeio público em áreas com vegetação, quiosques, mesas e bancos, próximas ou juntas às áreas comerciais e residenciais, sem haver veículos circulantes.

É preciso repensar as cidades em razão dos espaços urbanos e na medida do tempo em que nelas vivemos. Caso contrário ficaremos parados no espaço ao longo do tempo, em prejuízo do nosso conforto e das nossas atividades. Em suma, espaço e tempo são a dimensão da mobilidade. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.