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Escuta compreensiva: uma ferramenta de humanização do atendimento da APS às especialidades médicas

20 de Setembro de 2019 às 00:01

Julia Santos do Cabo

Os aspectos subjetivos de um paciente durante um encontro clínico são inerentes à prática médica. A união desses aspectos ajuda a formar o indivíduo como uma entidade holística e integralizada.

Algumas vezes o médico conseguirá identificar certos problemas do paciente só pelo modo como o mesmo se encontra emocionalmente, o que muitas vezes os exames não conseguem diagnosticar. Parece insignificante, mas, para os pacientes, essa demonstração de afeto e atenção faz muita diferença, principalmente para aqueles que estão enfrentando tratamentos mais complexos.

É crucial termos um olhar diferenciado sobre o paciente sempre visando ao seu bem-estar, afinal a hospitalização é encarada de maneira diferente por cada um, e escutá-lo é uma grande ferramenta para melhor trabalharmos, pois dá segurança para o doente, forma vínculos e diminui as ansiedades.

De acordo com estudiosos do tema, muitas vezes o indivíduo necessita apenas de alguém que o escute para que possa ordenar e organizar sua própria experiência e, mesmo que a solução para seus problemas pareça distante ou até impossível, o simples falar causa uma sensação de alívio imediato, a escuta sensível pressupõe uma inversão da atenção. Antes de situar uma pessoa em “seu lugar” começa-se por reconhecê-la em “seu ser”, dentro da qualidade de pessoa complexa.

Pensando nisso, nós da International Federation of Medical Student’s Association (IFMSA) Brazil PUC-SP convidamos o Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade nacional filantrópica que promove atendimento de socorro emocional às pessoas, a ministrar o Seminário “A arte de ouvir”, um curso de escuta compreensiva, baseado nas técnicas de atendimento dos voluntários do CVV e do estudioso Carl Rogers, para os alunos do curso de medicina, visando assim capacitar quanto ao atendimento centrado na pessoa, tão característico da Atenção Primária à Saúde (APS), mas que pode ser aplicado nas diversas especialidades médicas.

A habilidade empática parece não estar recebendo a devida atenção no ensino da psicologia médica e merece, portanto, ser melhor desenvolvida durante a formação deste profissional de saúde. Um médico empático busca da melhor maneira possível servir como instrumento de melhoria para aquele indivíduo que o procura num momento de necessidade ou desamparo.

O curso alcançou o resultado esperado mostrando sua relevância na formação de jovens médicos, que se mostraram inicialmente inseguros em apoiar os pacientes e seus familiares em momentos de fragilidade emocional, mas que ao longo do curso desenvolveram habilidade em compreender, sem julgamentos e de forma acolhedora, fortalecendo a relação médico-paciente.

O convite a aprender a escutar estimula os jovens médicos a aplicar aquilo que se parece intrínseco a APS em todas as áreas de sua vida, levando o tratamento humanizado e centrado na pessoa às muitas especialidades, reduzindo assim o abismo que separa a prevenção dos tratamentos mais complexos.

Julia Santos do Cabo é diretora nacional de pesquisa, publicação e extensão da IFMSA Brazil.