Escritório de Paranormalidade
“Todo mundo acredita em alguma coisa, seja no misticismo, seja na ciência. Não é possível viver sem algum tipo de crença. Mas enquanto algumas crenças têm o potencial de se autocorrigir, outras têm o potencial de gerar muito lucro a charlatães. (Daniel Martins de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas - USP (IPQ-HC) e coordenador médico do Núcleo de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica, NUFOR, 2015).
Paranormal, segundo o Dicionário Houaiss (2004), é quem tem supostos poderes extrassensoriais e curandeiro quem trata doentes sem habilitação médica por meio de rezas, beberagens, etc.
-- Eu não sabia que você era paranormal.
-- Abri um Escritório de Paranormalidade. Negócio do outro mundo. Espíritos de Luz de L.E.D., muito mais econômicos e duradouros.
-- Como você entrou nessa?
-- Fui arrebatado! Você acredita em dívidas depois da morte? Foi o que me levou para o caminho do autoconhecimento e sem aplicativo.
-- Incrível!
-- Eu recebo o “Caboclo Sem-Terra”, ligado ao MST, faço curas num Spa Esotérico. Devia conhecer. Temos banheiras de hidromassagem para lavar a alma e fazemos limpeza espiritual sem alvejantes. Meu Guia espiritual tem cinco estrelas na Revista 4 Rodas. As mensagens do além estão com 30% de desconto. Não quer aproveitar?
-- Não obrigado. Você recebe um guia?
-- Não recebo nada! Quem recebe é um amigo meu. Só uso a energia das mãos e nem deixo digitais. Estou psicografando livros.
-- Legal, posso ver?
-- Olha só: “Cinco dicas de onde se hospedar a caminho da eternidade, translado e city-tour incluso” ou este “Ao encontrar uma passagem no tempo, não viaje sem reservas”. Já leu?
-- Não tem picaretagem nisso, tem?
-- De jeito nenhum! Sou um paranormal. Quem você pensa que resolveu aquele estranho caso de um espírito de porco encontrado numa lata de feijoada?
-- Lembrei que vi você na televisão! Problemas com a Justiça, certo?
-- Calúnia! Nasci para fazer o bem, inclusive eu mesmo estou muito bem, fazendas, apartamentos, carros etc. Mas não ligo para bens materiais, tanto que não tem nada no meu nome, nadica de nada.
-- Não foi bem isso que disseram.
-- Inveja! Não me certifiquei se a voltagem do meu espírito de luz era 110 ou 220 v e queimou. Sofri um apagão.
-- Você foi acusado por algumas mulheres de estar pelado nas sessões.
-- Sou inocente! Eu tinha acabado de chegar de uma viagem astral e minhas malas com as roupas extraviaram, por isso fiquei pelado. Injustiça! Logo eu, que botei tanta gente para andar de novo.
-- Acredito. Tem um montão de gente correndo atrás de você.
-- Ingratidão. Muitos voltaram a enxergar graças a mim.
-- Abriram o olho. Disseram que você tentou fugir.
-- Não fugi, só tentei transmigrar para o Paraguai por uns tempos, mas fui detido pelo Anjo da Guarda da polícia federal.
-- E agora?
-- Preciso ir continuar minha missão. Já posso ouvir o som das luzes vindo na minha direção.
-- Você ouve luzes?!
-- Não, sirenes. Fui!
É preciso ter cuidado, pois o caminho da cura muitas vezes é mal iluminado e o único milagre, em alguns casos, é a demora das vítimas para denunciar os milagreiros à polícia.
Copo que anda é ótimo para dar mensagens, mas péssimo para colocar café.
José Feliciano é redator de humor e mistérios e médico do outro mundo.