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Encantos e desencantos em ser professor

07 de Fevereiro de 2020 às 00:01

Lucimeire Prestes de Oliveira Tomé

Hoje, particularmente neste dia, me remeto ao passado. Lembrei-me da minha infância e do meu início na vida escolar. Ingressei na escola aos 4 anos de idade. Muito pequenina, mas aquele ambiente já me encantava.

Lugar que cheirava limpeza, joguinhos e massinha coloridas, areia e folhas pra fazer bolinhos, balança de pneus, piscina, tias cheirosas com cabelo arrumado e batom nos lábios. Meus olhos pequeninos enxergavam tudo isso!

E a comida, hummm, como cheirava bom e como eu gostava da salada de frutas que eram servidas nas canequinhas de plástico. Tinha macarrão também! O ambiente escolar exalava amor e confiança.

Lembro-me das balas oferecidas pela diretora Dona Maria, quando por algum motivo íamos para a diretoria e levávamos as broncas necessárias. Mas também tínhamos nossas almas de crianças cuidadas e adoçadas pelas balinhas que tinham gostinho de afeto. Eu tão criança, me sentia amada e segura neste lugar.

Minha primeira experiência com escola foi no CEI 2, na Vila Santana. Escola que existe até hoje. Lugar abençoado.

Aos 17 anos me tornei professora. Ingressei na prefeitura de Sorocaba nesta função aos 21 anos em 1992. Trouxe comigo toda a experiência afetiva que vivenciei desde minha tenra idade.

Sabemos quem somos através do outro e meus colegas de profissão me dizem que sou uma professora afetiva. Isso me faz sentir leal ao meu passado.

Meu início como professora da prefeitura municipal foi maravilhoso. Iniciei com as formações da professora Maria Inês Pannunzio. Mulher sábia e amorosa. Quando falava de educação seus olhos brilhavam. Seu toque nos passava confiança, como se nos dissesse -- esse é o caminho. Continue. E continuei.

Conheci nesse meu trajeto profissional pessoas maravilhosas. A primeira escola que lecionei foi a creche do Paço, com a diretora Vera. Mulher forte e comprometida, que trazia em suas ações toda a segurança que uma professora iniciante como eu precisava. Fortaleza e amorosidade eram suas principais características.

Nestes 28 anos como educadora muitas pessoas conheci. Fiz grandes amizades que trago comigo até hoje. Profissionais que me ajudaram a ser a pessoa que sou hoje, pois fizeram parte da minha formação profissional e pessoal.

E hoje, como está a educação neste momento? Posso dizer que como pais e professores vivemos momentos difíceis. Muitas desilusões.

Vejo que nós, professores, continuamos amorosos, comprometidos e fortes como aquelas pessoas que conheci, porém já não somos mais respeitados como antes.

Onde estão as formações de início de ano, em que professores se encontravam e se preparavam para iniciar seguros mais um ano letivo. Iniciávamos nosso trabalho com tudo organizado. Havia ordem e compromisso. Hoje estamos sem rumo. Nos sentimos desrespeitados muitas vezes despreparados e humilhados.

Cadê a educação de outrora? Finalizando minha carreira como professora ainda procuro, mas não encontro. Gostaria que nossas crianças pudessem guardar boas lembranças do seu início na escola.

Levar na sua memória de criança a imagem do seu professor seguro e afetivo, a lembrança da sua escola limpa, organizada e cheirosa. Porém com tanta desorganização que hoje vemos parece que está cada vez mais difícil garantir isso às nossas crianças. Mas meu corpo cansado de professor ainda carrega uma alma infantil. Quero e preciso ter esperança.

Quero acreditar que a educação ainda tem jeito e darei o meu melhor enquanto professora e cidadã para que isso aconteça. Deus nos ajude a não perder a confiança no homem. E que nós professores possamos ser referência positiva na vida de nossos pequenos. Lembrar sempre que somos construtores de personalidades.

Jamais permitir que o cansaço e a desilusão possa vencer. Que o amor incondicional pelo ser humano vença! Um feliz e abençoado início a todos nós.

Lucimeire Prestes de Oliveira Tomé é psicóloga e professora de educação especial inclusiva na rede municipal de Sorocaba.