Buscar no Cruzeiro

Buscar

‘Em pedaços’ é uma tragédia de xenofobia

22 de Novembro de 2019 às 00:01

‘Em pedaços’ é uma tragédia de xenofobia Katja luta para levar os assassinos de seu marido e de seu filho para a prisão. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Em dezembro do ano passado, o Cine Reflexão apresentou na Fundec cinco filmes de diretores de nacionalidades diferentes que mostravam um amplo panorama sobre a questão dos imigrantes na Europa.

A imigração ilegal é um dos maiores problemas sociais deste século. O imigrante pode ser um refugiado das guerras do Oriente Médio e da África, guerras que foram patrocinadas, direta ou indiretamente pelos países ocidentais; pode também ser um indivíduo que busca condições de vida melhores das que usufrui dentro de seu Estado de origem. Geralmente não é um trabalhador qualificado. É frequentemente visto como ameaça à civilização ou à cultura europeia (religião, costumes etc.) e por isso é hostilizado, principalmente por grupos radicais nacionalistas.

Essa situação social constitui o pano de fundo de “Em pedaços”, de 2017. Seu diretor, Fatih Akin, é descendente de pais turcos e nasceu em 1973 na Alemanha.

O filme conta a trajetória de Katja, uma alemã nativa, casada com um imigrante turco, Nuri. O casal é proprietário de uma pequena empresa de consultoria tributária para atender à população imigrante do bairro em que residem. Eles se conheceram quando ela frequentava a faculdade e ele era o seu fornecedor de drogas.

Ele ficara preso por quatro anos por tráfico. Durante o período em que cumpria a pena, passou a estudar formas de abrir um negócio para sobreviver legalmente. Ainda na prisão, casou-se com Katja. Agora eles têm um filho, Rocco, e vivem em harmonia familiar.

Quando o filme começa, Katja está deixando o filho no trabalho com Nuri. Percebe-se logo que ele é um pai afetivo e paciente. Ao sair do escritório, Katja vê uma jovem abandonando uma bicicleta na frente do prédio. Quando retorna, descobre que houve a explosão de uma poderosa bomba caseira no escritório e que seu marido e filho estão mortos.

Ela associa o atentado à jovem da bicicleta e insiste com a polícia que a explosão era um crime de ódio xenófobo praticado por um terrorista neonazista, porque ocorrera no distrito comercial de um bairro de imigrantes. A polícia, contudo, atribui a Nuri o envolvimento na explosão como resultado de ativismo político entre os imigrantes, tráfico de drogas ou lavagem de dinheiro.

Um casal de história de ativismo neonazista é acusado como executante do atentado e o filme passa então a se desenvolver no tribunal. Todas as evidências apontam para o casal, incluindo o fato de Katja reconhecer na acusada a jovem da bicicleta. Até o pai do suspeito dá um testemunho prejudicial ao filho. Mas, as coisas não são tão simples para a infeliz Katja.

Muito se tem escrito nos últimos anos para procurar entender os fatores que determinaram o ressurgimento do totalitarismo neofascista no mundo e o consequente radicalismo nacionalista. Mas esse fenômeno é um dos muitos sintomas da enorme complexidade da sociedade contemporânea. Ninguém -- filósofo, sociólogo, político, economista, psicólogo -- consegue dar um sentido à sociedade que criamos.

Serviço

Cine Reflexão

“Em pedaços”, de Fatih Akin

Nesta sexta-feira (22), às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita