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Einstein

18 de Agosto de 2018 às 22:57

Nestas férias de julho, li a biografia de Albert Einstein. Matemática, física e cosmologia não são a minha área e por isso deixo aos interessados em teoria da relatividade o mergulho nesse precioso calhamaço. Preferi conhecer ali o homem, judeu alemão, com cidadania também suíça e norte-americana, Prêmio Nobel e, talvez, a maior celebridade do século passado.

Criança comum, ele começou a articular palavras só com dois anos de idade. Jovem, ralou o desemprego por dois anos. Dois casamentos, muitas complicações, além de variados enroscos com mulheres. No relacionamento com os dois filhos, curtiu sérios problemas, especialmente com o segundo, esquizofrênico, vários anos internado. Sofreu muito por ele, mas soube levar a vida com senso de humor, fumando, fazendo suas caminhadas diárias e se entretendo com gato, cachorro e papagaio. Ao filho doente e depressivo escreveu, certa vez: "A vida é como andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio, é preciso se manter em movimento". Lição completa de vida plena e saudável.

Einstein repudiava o militarismo e o autoritarismo de qualquer tipo. Sonhou sempre e lutou com seu enorme prestígio por um mundo em paz, sem nacionalismos populistas e no máximo respeito pela justiça social. Esta, segundo o seu biógrafo, levava-o "a detestar as pompas da hierarquia e d

a distinção de classes, a fugir do consumismo e do materialismo, a se esforçar em prol dos refugiados e dos oprimidos". Com essa queda pelos mais fracos, não poderia deixar de ser acusado de comunista e foi fichado no FBI.

Sempre curioso, ele auscultava os segredos da natureza com o mesmo gosto com que tocava Mozart, em seu inseparável violino. Para ele, música não era válvula de escape, mas a melhor forma de ligação com o que há de intangível e inexplicável no universo, "cujas leis nós compreendemos muito vagamente". Nasceu daí, em Einstein, a crença em algo maior a ele mesmo. Um sentimento de deslumbramento e de humildade: "por trás de qualquer coisa que nossa mente não consegue captar, algo cuja beleza e solenidade nos atinge apenas indiretamente: essa é a religiosidade. Nesse sentido, e apenas nesse sentido, sou devotamente religioso".

É muito comum, em discussões precipitadas sobre religião, colocar em cena cientistas pró e contra a existência de Deus. E o nosso Einstein sempre aparece nesse debate entre crentes e descrentes, o que é lamentável, pois ele foi muito claro: "Há pessoas que dizem que não existe Deus", disse ele a um amigo. "Mas o que me deixa mais zangado é que elas citam o meu nome para apoiar essas ideias". Ne verdade, a sua ideia de Deus não é de um Deus pessoal, mas apenas uma "convicção profundamente emocional da presença de um poder superior racional, que se revela nesse universo incompreensível". Com essa sinceridade é que Einstein sempre costumava denegrir os ateus: "O que me separa da maioria dos chamados ateus é um sentimento de total humildade com os segredos inatingíveis da harmonia do cosmos".

Nessa altura, não consigo terminar esse papo sobre ser ou não ateu, sem citá-lo mais uma vez: "Sou judeu, mas sou fascinado pela luminosa figura do Nazareno... quem pode ler os Evangelhos sem sentir a presença real de Jesus?"

Aldo Vannucchi é mestre em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e licenciado em Pedagogia. Autor de diversos livros, foi professor e diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba (Fafi) e reitor da Universidade de Sorocaba (Uniso) -- [email protected]