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Educação e fé

10 de Novembro de 2019 às 00:01

Dom Julio Endi Akamine

Na obra evangelizadora da Igreja, o empenho em transmitir a fé sempre foi acompanhado da criação de escolas e de instituições para o desenvolvimento cultural. Por exemplo, a imensa cidade de São Paulo começou no Pateo do Colégio: com uma igreja e uma escola!

Desde sempre muitíssimos educadores cristãos sustentaram que a fé no Evangelho deve ser acompanhada de uma boa bagagem cultural. Eles uniram o trabalho pedagógico para vencer o analfabetismo com a promoção de uma fé madura e consciente. A fé tem necessidade de cultura e de ciência para se aprofundar nas pessoas. Sem cultura e ciência, a fé cristã pode se tornar estéril. Um conhecimento superficial do Evangelho é o terreno mais propício para a superstição, o fanatismo e o fundamentalismo. Uma fé que não se traduz em cultura é uma fé que não fala de modo significativo e não se comunica com os contemporâneos.

A ignorância nunca ajuda no crescimento humano tampouco no espiritual. A ignorância torna as pessoas escravas da própria estreiteza de horizontes e prisioneiros das garras da cultura dominante; é terreno fértil para os preconceitos que envenenam nossa sociedade. A luta contra o analfabetismo é uma grande e nobre batalha de liberdade e de progresso civil e religioso.

Educar as pessoas se torna assim uma das formas mais belas e corajosas de misericórdia porque contribui para combater a pobreza e a escravidão, oferecendo às pessoas o grande bem da consciência e da liberdade. A ignorância e o analfabetismo das periferias de nossas cidades são infelizmente o terreno fértil para o crescimento de todo tipo de desvio, criminalidade e violência. Essas periferias vivem numa emergência educativa.

As periferias existenciais têm urgentíssima necessidade de escolas onde se possa aprender a viver a paz. A educação consiste na transmissão de uma cultura de base e de uma pedagogia do encontro para a convivência pacífica entre as pessoas. Não se trata apenas de tirar as crianças da rua, nem de preservá-las da violência, mas de desenhar com elas desde já um futuro de solidariedade.

Educar consiste também em abrir para as pessoas as riquezas da Palavra de Deus. Já São Jerônimo afirmou: ignorar as Escrituras é ignorar Cristo. Transmitir a fé implica necessariamente o conhecimento das Escrituras.

Educar é transmitir a fé cristã em um mundo praticamente analfabeto de Jesus e do seu Evangelho. Junto com as escolas, é urgentíssimo transmitir o Evangelho para vivê-lo como sentido próprio da vida.

O papa Francisco adverte que a “pior discriminação que os pobres sofrem é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a Sua amizade, a Sua bênção, a Sua Palavra, a celebração dos sacramentos e a proposta de um caminho de crescimento e amadurecimento na fé. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se, principalmente, numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária” (EG 200).

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.