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É possível controlar o clima?

18 de Dezembro de 2018 às 00:01

Christiano Bruneli Peres com Lucas Hubacek Tsuchiya

Quando pensamos em controle climático, pensamos em filmes de ficção cientifica, documentários apocalípticos, sempre situados em um futuro distante. Mas será que São Pedro pode perder seu emprego? Será que é cientificamente possível tentar controlar o clima em determinadas regiões?

Entende-se por simulação climática o fato de realizar intervenções no meio ambiente com o objetivo de reproduzir um determinado clima para uma região. Podemos começar com o questionamento sobre o que leva os seres humanos a simular uma condição climática. Vários são os motivos, tais quais: preocupações com as mudanças climáticas, aquecimento global, vulnerabilidade de regiões, interesses políticos, militares, testes e estudos científicos, dentre outros.

Tentar modificar o clima não é uma prática tão antiga. Tentativas já ocorrem desde o início do século passado, como exemplo clássico a prática conhecida como “semeadura de nuvens”. Tal prática consiste na aplicação, em grandes quantidades, de aerossóis (partículas em suspensão no ar) na atmosfera para a formação das nuvens de chuva. De maneira geral, as gotículas de água se condensam em torno dos aerossóis, podendo formar cristais de gelo, até que alcancem uma determinada massa e precipitam na forma de chuva. Os fatores determinantes, são o tamanho das partículas de aerossóis e a quantidade relativa deles presente no ar pois, em excesso, fazem com que as gotículas de gelo nunca atinjam um tamanho crítico, fazendo com que a “chuva simulada” não ocorra.

Em tempos atuais, a chamada “geoengenharia climática” vem ganhando seu espaço, apesar de ainda existirem controvérsias sobre seu uso. A geoengenharia, é uma forma de manipular o ambiente em larga escala para estabelecer um equilíbrio em relação às mudanças climáticas. Um dos métodos propostos envolve a aplicação de aerossóis de enxofre nas altas camadas da atmosfera para que os raios solares reflitam antes que atinjam a superfície terrestre. O modelo é elaborado com base na erupção de um vulcão, que ao formar grandes nuvens de enxofre acabam refletindo os raios solares.

Uma grande parte dos projetos propostos está relacionada com formas para remoção do gás carbônico da atmosfera, seja através de processos envolvendo biomassa, construção de máquinas ou fertilização dos oceanos.

Devido ao aumento acelerado e altas concentrações de carbono na atmosfera nos últimos anos, uma das soluções possíveis seria a aplicação da geoengenharia para causar um resfriamento da atmosfera. Porém os pesquisadores temem que o mau uso incentive os países no aumento de emissões de gases, ao invés de optarem por práticas de redução.

Outros interesses bastante discutidos a respeito da tentativa de “controlar” o clima são de iniciativas governamentais, como o polêmico projeto militar americano HAARP (High Frequency Active Auroral Research Program). No início dos anos 90 este começou a funcionar no Alasca com objetivo de estudar a ionosfera terrestre (camada da atmosfera onde há uma intensa atividade de íons). Aprofundando o conhecimento acerca da ionosfera terrestre seria possível desenvolver estudos para melhorar sistemas de comunicação e navegação. Para tanto, o projeto conta com uma grande quantidade de antenas de alta frequência instaladas em sua área, que enviam frequências de ondas para a ionosfera, visando aquecê-la. Com isso são estudadas as mais diversas interações entre temperatura e pressão.

Observamos que, apesar do avanço tecnológico, existe uma grande dúvida sobre os possíveis problemas que o eventual controle climático poderá causar. Afinal temos um longo histórico sobre o mau uso de tecnologias, principalmente voltadas para guerra.

Christiano Bruneli Peres é engenheiro ambiental graduado pela Unesp-Sorocaba e aluno de pós-graduação em Ciências Ambientais da Unesp-Sorocaba; Lucas Hubacek Tsuchiya é engenheiro ambiental formado pela Unesp-Sorocaba.