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É o plástico vilão?

29 de Abril de 2020 às 00:01

Tallita Lima

O plástico não é vilão. Nós somos.

Desde os primórdios da humanidade temos extraído recursos da natureza para o consumo próprio. Atualmente, nos deparamos com maneiras de viver insustentáveis, com o uso desenfreado e irresponsável de matéria e energia e, consequentemente, a produção excessiva de resíduos e poluição. Não surpreende que se fale, cada vez mais, sobre a conscientização do uso daqueles recursos que um dia acreditamos ser inesgotáveis.

Crise hídrica, poluição, desmatamento, são apenas alguns dos problemas ambientais causados pela produção industrial. No meio disso tudo temos a questão do plástico. No mundo, por ano, são produzidas 250 milhões de toneladas de plástico. Cerca de 35% desse montante são usados apenas uma vez, por 20 minutos.

Antagônica a essa situação, a empresa petroquímica Braskem sugere que o uso do copinho descartável pode ser a opção mais sustentável para o planeta. Essa informação foi obtida através da Avaliação do Ciclo de Vida de dois produtos: o copo descartável e o reutilizável. Segundo o estudo, a etapa de lavagem dos copos reutilizáveis consome mais água que todo o ciclo de vida do copo descartável, sem falar nas vezes que são utilizadas máquinas de lavar, que consomem energia também. Por outro lado, o copo descartável gera mais resíduos e emissões de gases de efeito estufa.

No entanto, para que essa opção fosse a mais sustentável, todo o plástico produzido teria que ser reciclado, e não é isso que ocorre na realidade. De acordo com dados do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), no Brasil, apenas 3% do lixo produzido é reaproveitado, sendo sua maior porcentagem voltada para a reciclagem de papel.

Já pensou em quantos milhões de copos são descartados por dia e não são reciclados? Para onde vai tudo isso? 80% do plástico encontrado no mar tem origem em atividades em terra (domésticas, industriais e agrícolas). Estima-se que, em 2050, teremos mais plásticos do que peixes em nossos oceanos. É revoltante pensar que um produto utilizado por apenas alguns minutos pode causar todo esse desequilíbrio. Por isso fala-se muito em substituir descartáveis por reutilizáveis. Alguns países já estão no processo para a proibição do plástico de uso único como copos, talheres e pratos descartáveis, sacolas e garrafas. Na Costa Rica e em países da União Europeia, essa meta será cumprida em até três anos. No Brasil, algumas cidades já estão adotando essa prática por meio da proibição de canudos descartáveis. Existem também diversas campanhas visando a conscientização da população em relação ao uso do plástico, como a Free Plastic July, que incentiva a sociedade a recusar plásticos de uso único durante o mês inteiro de julho.

É claro que, assim como a Braskem, devemos incentivar a reciclagem do lixo. Temos iniciativas muito boas, como a Precious Plastic, que produz ferramentas que auxiliam na reciclagem do plástico. Mas temos que levar em conta também outros fatores, como; matéria-prima, energia utilizada nas fábricas de descartáveis e combustível utilizado pelo transporte desses produtos, que gera CO² e contribui para a poluição. Em relação à economia de água, já existem práticas focadas no tratamento da mesma que visam ao combate à crise hídrica, como a reciclagem de água potável e não potável.

Há diversas formas de reduzir os danos que viemos causando ao meio ambiente durante todos esses anos, e elas funcionam melhor em conjunto, cada um fazendo a sua parte.

O plástico não é vilão. Nós somos. Mas ainda há tempo de reverter isso.

Tallita Lima é recém-formada no curso de Design da Uniso. ([email protected])