Duas Cidades
Crédito da foto: Acervo Pessoal
Edgard Steffen
Brasil pode produzir respirador da Nasa
(Jornal O Estado de SP 18/06/2020 pág. A11)
Os anos 30 e 40 foram a época de ouro para colégios internos. Nas pequenas comunidades havia apenas o ensino primário. Para continuar os estudos, aos nascidos em pequenas cidades, somente um caminho. Deixar a terra natal e, abrigados em ateneus, pensões ou casa de parentes, cursar o secundário (ginasial) nas cidades maiores. Foi o que me ocorreu. Dos onze anos até o curso médico circulei em pensões e casas de parentes no circuito Itu/Salto/Campinas. Este ano comemorarei 70 anos de Sorocaba. Aqui completei vida e carreira sem nunca esquecer minhas origens. Hoje, sou orgulhoso detentor de dupla cidadania. Uma por nascimento, outra por adoção. Sem olvidar os que me acolheram em Campinas, Itu e Salto.
Preocupado com os rumos da pandemia, abro o Estadão e encontro notícia boa. No artigo escrito por Beatriz Bulla, correspondente em Washington, fico sabendo que engenheiros da Nasa conceberam um respirador de baixo custo e rápida montagem, ao qual deram o nome Vital. O equipamento foi devidamente aprovado pela FDA (Foods and Drugs Administration). A empresa aeroespacial concede patentes e licenças para 8 empresas americanas e 24 estrangeiras produzirem o aparelho. Entre as três brasileiras selecionadas, uma está sediada em Indaiatuba. Segundo o diretor comercial da Russer especializada em produtos para urologia a meta será produzir 1.000 aspiradores por mês. O indaiatubano dentro de mim estufou o peito.
Vim para cá quando minha terra natal tinha pouco mais de 10 mil habitantes; Sorocaba era 10 vezes maior. Meu irmão Lauro Steffen, funcionário do Banco do Estado de São Paulo, fora transferido para abertura da agência local. Sua transferência viabilizou minha chance de estudar Medicina. Curso caro pela natureza exigia período integral, condição impeditiva ao exercício de emprego formal remunerado.
Passados 70 anos, a terra onde nasci cresceu 25 vezes. Obedecendo a um plano diretor concebido pelo arquiteto-urbanista Jorge Wilhein, evoluiu ordenadamente, sem favelas. Baixo índice de desemprego e bem equipada nas áreas de Educação e Saúde chegou a ocupar o 1º lugar no ranking nacional de IDH. Ostenta, hoje, conjunto de estabelecimentos para ensino superior e até Faculdade de Medicina.
Do advogado Carlos Olympio Pires da Cunha, meu sobrinho, recebo vídeo mostrando a nova ala do Hospital Augusto de Oliveira Camargo. Terá a capacidade ampliada para 240 leitos e deverá servir como hospital-escola para a Faculdade de Medicina. Em maio pp apressaram a liberação de 24 leitos, específicos para pacientes da Covid-19. Município vizinho a Campinas e servido por modernas estradas ligando-o à Capital e outros grandes centros, não faltará à nova faculdade corpo docente de alta qualificação. Como não faltou à Faculdade de Medicina de Sorocaba 1ª experiência de interiorização do ensino médico (1951).
Bendigo a “terra querida e venturosa”* onde nasci e a “terra rasgada” onde vivi. Na primeira restam sobrinhos e suas famílias. Amigos coetâneos, quase todos partiram. Na segunda, pelo maior tempo vivido pude fazê-los a maior número. Além da família que constitui e dos camaradas sobreviventes, ainda posso contar acréscimos. Nestes dias de covidiana prisão domiciliar, procuram aliviar nosso isolamento compulsório. O whatsapp de minha esposa não para de receber fotos e mensagens. Em meu e-mail manifestam-se leitores. De Santiago recebi edição especial de quadrinhos. De Tambelli, livro com narrativas e fotos do Glorioso Timão. De Azor atenciosa prestação de pequenas tarefas. Todos grandes corações. Obrigado!
(*) Versos iniciais do Hino Oficial de Indaiatuba
Edgard Steffen é escritor e médico pediatra - E-mail: [email protected]