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Dor nas costas

19 de Dezembro de 2019 às 00:01

Tulio Pereira Cardoso

Por mais pessimista que possa parecer, existem três tipos de humanos com relação a dor nas costas. Os que tiveram dor, os que têm dor e os que irão ter dor. Quem nunca teve uma dorzinha nas costas?

Pagamos o preço da evolução para o bipedalismo ou bipedismo (1, 2). Desde que passamos a ser bípedes andando sobre os dois pés, sobrecarregamos nossa coluna. A evolução tecnológica por um lado nos deu o benefício da facilitação de atividades da vida diária, mas por outro nos levou a um indesejável sedentarismo.

Automóveis, motocicletas, aviões, barcos motorizados, elevadores, escadas rolantes e até esteiras rolantes vieram colaborar com nossa inatividade física. Além disso o computador pessoal, o smartphone, o controle remoto da TV, os canais de filmes e em parte a insegurança pública, nos transformou em “sedet hominem” ou homem acomodado.

Você já pensou em quantas vezes deixou de sair de casa para um simples programa ao ar livre? O comodismo de ficar em casa inclui a privacidade, o conforto daquele velho sofá e aquela preguiça difícil de vencer. Um simples trajeto até a padaria que fica a duas quadras da sua casa, é feito de carro!

Caminhar 30 minutos três vezes por semana, usar mais escadas e menos elevador, estacionar o carro um pouco mais longe são atitudes que podem ajudar muito.

O trabalho sentado, sem intervalo, pode ser mais prejudicial para sua coluna vertebral que um trabalho mais pesado. Faça pequenos intervalos de 2 a 3 minutos a cada meia hora. O simples ato de levantar e espreguiçar já ajuda.

A prática excessiva de esportes, sem o devido preparo e orientação, pode sobrecarregar a coluna. É importante saber escolher a atividade a ser praticada e respeitar os limites de tolerância individual.

A obesidade causada por esse mesmo sedentarismo e maus hábitos alimentares pioram a situação. Quando você sentir dor na coluna é importante buscar orientação médica. Diagnosticar a causa da dor é fundamental. Não só causas mecânicas, como as acima descritas, podem causar dor nas costas. Algumas doenças em órgãos da pelve podem simular lesão da coluna vertebral. Infecções urinárias, cálculos renais ou biliares e processos inflamatórios ou tumorais do pâncreas, vesícula, rins, ovários, útero, testículos, próstata e bexiga podem inicialmente se manifestar por dor na região lombar. Até problemas pulmonares e cardíacos podem se manifestar com dor na coluna, mas geralmente na região torácica. Daí a importância de exames preventivos de rotina. Evite automedicação.

A osteoporose ou perda de massa óssea, comum nos idosos, pode causar dor lombar pelo colapso ou achatamento vertebral. O desgaste das articulações entre as vertebras (espondiloartrose), o escorregamento das vertebras (espondilolistese) e a deformidade angular da coluna (escoliose) também são causa frequente de dor.

Diferentes formas de artrite (inflamações articulares) podem afetar a coluna provocando muita dor e limitação, e devem ser diagnósticas e tratadas pelo reumatologista. Causas eminentemente ortopédicas ou neurológicas como as hérnias de disco devem ser tratadas pelo ortopedista ou neurocirurgião.

Na maioria dos casos o tratamento clínico com medicação relaxante, analgésicos, fisioterapia, mudança de hábitos e postura corporal, assim como a perda de peso e o alongamento e fortalecimento muscular para vertebral resolverão o problema. Alguns casos vão requerer atitudes mais invasivas como infiltrações guiadas por imagem e até mesmo cirurgias de descompressão e/ou estabilização da coluna.

As novas tecnologias nessa área são cada vez menos agressivas e mais eficazes. Portanto, dor nas costas é uma queixa comum e é imprescindível estabelecer o diagnóstico com minucioso exame clinico, auxiliado por exames de imagem e eventualmente laboratorial. Eliminar a dor é reconfortante mas não é suficiente. Devemos sempre estabelecer a causa da dor.

1. Bipedal behavior of olive baboons (Papio anubis) and its relevance to an understanding of the evolution of human bipedalism.

Rose, M.D.

The Journal of American Association of Physical Anthropologists, 44(2), março 1976

2. Evolution of Human walking.

Lovejoy, C.O.

Scientific American, 259(5), novembro 1988

Dr. Tulio Pereira Cardoso tem Título de Especialista pela Soc. Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e é Coordenador da Preceptoria de Ortopedia do Hospital Santa Lucinda, PUCSP.