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Dor de garganta: quem não tem?

28 de Agosto de 2019 às 00:01

Mário Cândido de Oliveira Gomes

A garganta, também chamada orofaringe, é o local das vias aéreas superiores que une a boca à faringe. Fala-se em vias aéreas superiores ou trato respiratório superior o segmento que está acima de uma linha imaginária que passa pelo pomo de adão, localizado no pescoço (cartilagem cricóide). As vias aéreas superiores se estendem desde os orifícios nasais até o plano acima mencionado, e apresentam doenças extremamente frequentes, como as faringites, sinusites e amidalites. Em contraponto com as vias inferiores, estão sempre contaminadas, pois abrigam rica flora microbiana.

Também diferem das inferiores pela benignidade de suas doenças. Assim, as inferiores são geralmente graves, como as pneumonias, broncopneumonias, abscessos de pulmão, etc. A dor ou desconforto na garganta é uma das queixas mais frequentes dos portadores de infecção respiratória alta. Às vezes é acompanhada de febre, dor à deglutição, mal-estar, fraqueza e outros sintomas de infecção. Tais infecções incluem um grande número de processos inflamatórios agudos, que acometem o nariz (rinite), os seios da face (sinusite), ouvido médio (otite), laringe e epiglote (laringite) e, finalmente, a orofaringe, principalmente a parede posterior (faringite) e as amídalas (amidalite).

Estas infecções são causadas geralmente por vírus (acima de 80%), mas, também, podem ser agenciadas por bactérias, o que justifica o emprego frequente de antibióticos. Isso ocorre particularmente nas otites e sinusites. Nas faringites, o germe mais encontrado é o estreptococo beta-hemolítico do grupo A, estando indicado um antibiótico específico, como a penicilina e seus derivados. A eliminação dessas bactérias é fundamental para evitar o aparecimento de duas doenças importantes: febre reumática e nefrite.

Muitas outras bactérias podem causar infecção da garganta, citando-se entre elas o meningococo (meningite), gonococo (doença sexualmente transmissível), o bacilo da difteria (crupe), hemófilos e micoplasmas. Os hemófilos parasitam obrigatoriamente as membranas mucosas, principalmente a garganta e, em menor extensão, o nariz, as conjuntivas e o trato genital. A transmissão é feita por meio de gotículas de saliva e secreções do aparelho respiratório ou por contato direto com material contaminado, como lenços, copos, etc. Também aparece dor de garganta na inflamação do revestimento da boca (gengivoestomatite), que pode ser localizada, com poucas úlceras dolorosas ou generalizada, com febre, ínguas no pescoço, etc. Em geral é provocada pelo vírus do herpes simples ou por outros vírus, como é o caso da herpangina (vesículas). O mesmo ocorre com a estomatite aftosa, que ataca o homem e o gado. Esta doença é totalmente diferente das aftas, que são manchas brancas com diminutas ulcerações extremamente dolorosas.

As pequenas aftas regridem em duas semanas, mas as grandes podem persistir por meses, inclusive com recidivas. Infelizmente não existe tratamento, pois a causa ainda é desconhecida. Também comprometem a garganta as infecções causadas por fungos, como a candidíase (sapinho), com preferência pelos indivíduos com baixa resistência, como os aidéticos, diabéticos, usuários de cortisona, etc.

A inflamação da garganta ocorre, ainda, nos pacientes com câncer de boca e submetidos a radio ou quimioterapia. Como se pode observar o leque de situações que provocam dor de garganta é imenso e exige um diagnóstico correto para o sucesso no tratamento. Todavia, como já falamos, mais de 80% das infecções de garganta são provocados por vírus, por isso, os antibióticos não estão indicados, pelo menos nos casos sem complicações.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.