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Domar o touro dos desejos

07 de Julho de 2020 às 00:01

Domar o touro dos desejos Crédito da foto: VT

Vanderlei Testa

Gosto de assistir o Programa Direção Espiritual conduzido pelo padre Fábio de Melo, no canal Canção Nova. Entre suas palavras, o padre Fábio disse uma frase que chamou a atenção dos meus ouvidos. “Educar os seus desejos”. Acabou por ser a inspiração do meu artigo. Quando penso em desejos, meu voo vai aos ares dos tempos, desde que me conheço por gente com os meus primeiros anos de vida. A elegância da alma de uma pessoa, construída em busca da felicidade têm raízes no trabalho interior que fazemos dentro de nós. O autor John Power, professor da Universidade de Loyola, em Chicago, defende a teoria da felicidade ao alcance de todos. Ele cita a busca do ser humano que precisa ser dirigida ao interior da alma, não ao exterior do corpo. Creio que ele tem razão. Pensei em histórias de famílias, onde muitos adolescentes, filhos de pais ricos, ganharam carros, roupas de moda, viajaram e tem liberdade de mesadas financeiras e acabaram buscando a felicidade em drogas. Também, muitos amigos que ainda nos relacionamos nestas décadas, comprovaram que a felicidade nasce na humildade, fé e amor ao próximo. Quantos jovens atuam em comunidades pobres e são felizes. Experiências de vida nos mostram que educar os desejos é uma realidade incontestável. Um dia é dividido em 96 quartos de hora-15 minutos. Veja quantos desses quartos você dedica à busca da sua felicidade. Aprendi que orar, no sentido de dialogar interiormente com o Criador, mesmo em silêncio, é uma das mais empolgantes busca da felicidade eterna.

A impulsividade dos nossos desejos do consumismo é uma dessas metas de educação que precisa ser domada como o vaqueiro faz com o touro. E como dizem: “a unha”. Nesta pandemia as manchetes dos jornais e dos programas de jornalismo na televisão sempre ganham espaço com as imagens de multidões nas ruas e nas lojas. E pelo que vejo e leio, para compras de bobagens, com produtos que não serão utilizados de imediato. Filas em lojas de bijuterias. Arriscam a vida sem necessidade. Cada vez mais há uma incógnita sobre o que passa na cabeça do ser humano. Desejos e ilusões passageiras. Nunca se vendeu tanto como agora em sites. Fazemos questão de mostrar o bem material nas redes sociais. Já foi falado que viver o momento presente é amar em primeiro lugar a si mesmo. E quem não se ama, passa a vida buscando no outro e, em produtos, a satisfação de seus desejos. A busca permanente da verdadeira felicidade exige muita luta e até dor, como disse John Power: “não matamos os nossos dragões com um só golpe de espada”. Exige perseverança, disse o autor do livro “Felicidade, um trabalho interior”.

Maria Aparecida Almeida Dias de Souza, sorocabana e amiga de mais de quatro décadas, escreveu noventa e cinco histórias nas redes sociais e publicou o livro “Eu e Minhas Histórias”. Ganhei com a leitura de seu livro o conhecimento de fatos da sua infância que a moldaram em sua personalidade de um ser humano exemplar e profissional vitoriosa. Certamente, os leitores dessa obra irão aprender com suas experiências de mãe que educou a si e aos seus três filhos ao sucesso como pessoas íntegras. Ela soube educar os desejos de cada um com amor, fé, disciplina, ética e moral.

Há uma mensagem antiga na velha tradição judaico-cristã sobre o ensinamento que Deus envia cada pessoa para viver um ato de amor especial. Cada um de nós é único. Somos feitos, individualmente, perfeitos para cumprir a nossa missão. Precisamos refinar as nossas atitudes. A elegância da alma, como citei, está em assumir a verdade no “Tornar-se Pessoa”, título do livro do psicólogo Cal Rogers. Quantas vezes por dia mentimos a outra pessoa quando em contato com ela. Ou apenas estamos fisicamente presente ou com interesses pessoais, sem amá-la.

No dia de São Pedro, li um pouco da sua história bíblica. Um pescador atraído pelo bem que assumiu uma trajetória milenar como discípulo e apóstolo educando os seus desejos humanos. E Pedro transformou seus desejos de pesca em evangelizar e testemunhar o amor divino como proposta de vida. Pensei nos falsos Pedro no Facebook, no Instagran, Twitter, YouTube e outros meios. Pessoas que usam as mensagens fake news para mentir e enganar. O verdadeiro Pedro de hoje usa a comunicação do século XXI para educar os desejos da humanidade. Se os apóstolos precisavam viajar centenas de quilômetros para levar boas notícias, os apóstolos, como você leitor, neste tempo da Covid-19 entra nas casas do mundo inteiro por uma telinha de celular ou computador.

Há também aqueles apóstolos desta pandemia que buscam atender os desejos de alimentação de milhares de famílias sem renda de salário ou outra remuneração. Diariamente, os voluntários de centenas de entidades espalhadas pelo mundo, e em especial em Sorocaba, se mobilizam para nutrir milhares de pessoas. O caos do desemprego, do fechamento de negócios, do isolamento social, fez com que houvesse uma radical mudança de sobrevivência. Tive a oportunidade de acompanhar uma dessas iniciativas. O jornal Cruzeiro do Sul cedeu espaço para divulgar uma reportagem sobre uma ação do Conselho de Leigos da Arquidiocese de Sorocaba na Campanha de Arrecadação de Alimentos. Coloquei meu número de WhatsApp no texto para arrecadação. Em poucos minutos no dia da veiculação, comprovando o alcance do jornal junto à população, começaram a aparecer os doadores. Em poucos dias, a equipe do Conselho de Leigos em suas bases de arrecadação, chegaram a mais de 1.600 cestas. Todas já foram distribuídas às famílias que buscaram ajuda neste momento crítico da pandemia. E até bombons foram entregues aos filhos.

Com certeza, educar os nossos desejos para amar mais a si é uma fonte de felicidade que irá jorrar paz e saúde física, emocional e espiritual nas vidas das pessoas com quem nos relacionamos.

Vanderlei Testa jornalista e publicitário escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. E-mail: [email protected]