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Diabetes Mellitus

02 de Setembro de 2020 às 00:01

Antônio Roberto Maestrello

Embora seja uma doença conhecida há muitos anos, havendo referência à existência de uma afecção com as características da mesma no papiro Ebers, datado do século XV A.C., e o nome diabetes tendo sido dado no século II, na Grécia Antiga, hoje, o diabetes é considerado uma epidemia mundial.

A prevalência aumentou em 61,8% nos últimos 10 anos no Brasil (Ministério da Saúde), sendo que, pelo Atlas da IDF (International Diabetes Federation) de 2019, o Brasil possui atualmente 16,5 milhões de diabéticos adultos, correspondendo a 8,7% da população.

O aumento da prevalência do diabetes está associado a diversos fatores, como rápida urbanização, transição epidemiológica, transição nutricional, maior freqüência de estilo de vida sedentário e excesso de peso, crescimento e envelhecimento populacional e, também, à maior sobrevida dos indivíduos com diabetes.

As pessoas com risco mais elevado de serem diabéticas, precisando, portanto, de avaliação, mesmo se forem assintomáticas são as que apresentam: parentes de primeiro grau com diabetes; risco aumentado em função da raça ou de fatores étnicos; história de doença cardiovascular; hipertensão; nível de colesterol ou triglicérides alterado; mulheres com síndrome dos ovários policísticos; inatividade física; outras condições clínicas associadas à resistência à insulina (por exemplo: obesidade intensa, acantose nigricans); história de diabetes gestacional, dentre outras. É importante que quem se encontre neste grupo procure os serviços para exames e outras orientações para prevenção.

Como é uma doença crônica, apontada como a terceira causa mundial de mortalidade prematura, sem cura atualmente, e uma causa importante de complicações potencialmente fatais ou incapacitantes, como insuficiência renal, cegueira, infarto do miocárdio, derrame, amputação de membros, impotência sexual, etc., os custos sociais e financeiros podem ser muito grandes.

Há outros dados preocupantes: cerca de 50% dos pacientes diabéticos não sabem que têm a doença; a prevalência de diabéticos fora das metas de tratamento que, seguramente diminuem a incidência de complicações, é de 73%; pelo menos 70% dos pacientes diabéticos não são acompanhados pelo especialista, o que implica numa necessidade dos médicos conhecerem e acompanharem, se possível com equipe multidisciplinar (enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas), e, principalmente, manter o diabetes e as comorbidades controladas, reduz o risco de complicações neurológicas e vasculares.

A descoberta de novos medicamentos, com diferentes ações, permite que o tratamento seja feito de maneira individualizada, com a necessária interação médico-paciente, de maneira que sejam levadas em conta condições, como idade, situação financeira, peso, preferências, contraindicações, associações medicamentosas, etc.

Para obter sucesso no controle do diabetes, além dos medicamentos, é necessário estabelecer e desenvolver novas e mais fortes parcerias entre órgãos governamentais e sociedade civil, para uma maior corresponsabilidade em ações orientadas para prevenção, detecção e controle. Essas novas estratégias devem promover um estilo de vida saudável e mudanças de hábitos em relação ao consumo de certos alimentos e refrigerantes, bem como estimular a atividade física. Em articulação com o setor educacional, essas ações devem priorizar a população de crianças, adolescentes e adultos jovens. Essas propostas constam das Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes.

O aumento da prevalência do diabetes levou ao aumento do conhecimento científico em relação aos fatores de risco, formas de tratamento medicamentoso ou não, prevenção de complicações ou reabilitação precoce quando elas já ocorreram, além do maior acesso a esses programas, o que permite ações importantes na manutenção da qualidade de vida dos pacientes e familiares, tornando o acompanhamento dos diabéticos muito gratificante atualmente, mesmo se considerando o caminho longo a ser percorrido.

Antônio Roberto Maestrello é médico, especialista em Endocrinologia e Metabologia.