Buscar no Cruzeiro

Buscar

Dia Mundial do Meio Ambiente: o sentido da palavra ‘cuidar’

05 de Junho de 2020 às 00:01

Admilson Irio Ribeiro

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano de 1972 ficou conhecida como Conferência de Estocolmo e foi um marco entre as nações para se discutir as questões ambientais e a influência antrópica. Como referência a essa importante Conferência no dia 5 de junho se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente. Acentuando os elementos da necessidade de se cuidar do meio ambiente, no mesmo ano de 1972 a tripulação da Apollo 17 presenteava a humanidade com a famosa foto “Blue Marble”, que alguns traduziram como a Bolinha Azul. Essa condição de necessidade, já percebida no meio politico e social, acabou explicitada na bela imagem de uma esfera azul flutuante com dimensões finitas.

As condições finitas do planeta, contrapondo com a visão econômica de riquezas infinitas atreladas em mercados futuros, começam a se chocar e os resultados advêm em repostas negativas da natureza à magnitude das ações humanas. Cabe ressaltar, como impacto positivo, que nossas ações ao meio ampliaram a ocupação humana em todos os territórios habitáveis do planeta. Entretanto, nossa urbanização crescente baseada nos contrastes sociais abastecido por alimentos produzidos por uma agricultura simplificadora dos processos naturais, ainda carece de muita ciência e afinidade com o meio físico e biótico. Nesse contexto, a pandemia atual pode ser entendida como uma resposta negativa da natureza as nossas ações, pois nas últimas décadas acentuamos a perda de biodiversidade que estabelece condições de desequilíbrio para que novos vírus ou outras doenças possam aparecer. Assim, a análise da viabilidade ambiental em nossas atividades deve ter a mesma importância que a viabilidade econômica.

Dentre os instrumentos das politicas públicas já implantadas nesse sentido, o mais conhecido é a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA). Essa avaliação possui caráter preventivo e se aplica as atividades com potencial de causar impactos significativos ao meio. Nesse momento, alguns atores sociais pouco esclarecidos tentam flexibilizar ou mesmo minimizar sua importância. Entretanto, a atual conjuntura mostra a necessidade de se ampliar o alcance desse instrumento. Com o avanço das trocas de dados digitais e, consequentemente, informações, algumas iniciativas parecem promissoras como, por exemplo, o conceito de cidades inteligentes, de agricultura de precisão e a da associação da própria ideia de utilização da inteligência artificial por meio de redes neurais convolucionais no aprendizado de máquinas.

Mesmo com avanços significativos, uma grande parte das nações ainda amplia suas economias transformando seus recursos naturais em resíduos, perdendo grande parte da sua diversidade biológica, degradando os solos e as águas e, principalmente, na perda do potencial humano transfigurado na miséria e gentrificação. Essa condição inibe a oportunidade de gerações futuras e compromete nossa espécie, contrapondo ao que chamamos de sustentável. Nesse sentido, como uma proposta motivadora a todos, quero destacar que todas as ações por um mundo mais sustentável podem ser resumidas no verbo: CUIDAR.

A origem da palavra “cuidar” vem do Latim e teve ou possui sua expansão semântica em diferentes momentos da humanidade. No inicio, um significado relativo à cura, ou seja, à sanidade do corpo. Na conjuntura da idade medieval, o verbo dissociou-se da matéria e transformou-se em sinônimo na cura da alma e a busca pela salvação. Na dinâmica dessa expansão semântica, esse verbo se destaca, pois possui uma transitividade pronominal, intransitivo e transitivo, tendo como sentido: cuidar de, pensar, atentar, supor, prevenir-se, considerar-se e tratar-se.

Dentro desses significados, que nos ajudam a pensar nossa própria Natureza, ou seja, nosso Meio, deixo a mensagem que viver em harmonia com o Ambiente consiste no CUIDAR em todas suas dimensões.

Admilson Irio Ribeiro é professor da UNESP-Sorocaba e vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da UNESP-Sorocaba.