Dia Mundial do Enfermo
Dom Julio Endi Akamine
A atual pandemia tem nos surpreendido. Experimentamos as ameaças reais da segunda onda de contaminação. Nesse sentido, é preciso mais uma vez chamar todos à responsabilidade pessoal, social e política.
Sem deixar de reconhecer a urgência das providências sanitárias e políticas, é preciso também um olhar mais profundo de fé sobre a pandemia e seu combate. Estamos nos aproximando de algumas datas importantes no âmbito da Arquidiocese de Sorocaba. Nesse sentido, destaco a bênção da garganta no dia de S. Brás (03/02) e o dia mundial do enfermo na memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes (12/02).
O dia mundial do doente foi instituído pelo papa S. João Paulo II para ser um “momento forte de oração, de partilha, de oferta do sofrimento pelo bem da Igreja e de apelo dirigido a todos para reconhecerem na face do irmão enfermo a Santa Face de Cristo que, sofrendo, morrendo e ressuscitando, operou a salvação da humanidade”.
Em sua mensagem por ocasião dessa data, o papa Francisco se dirige de maneira especial aos doentes e aos que cuidam dos doentes, dizendo que a Igreja reconhece neles uma presença especial de Cristo sofredor. Essa é a realidade que a fé nos faz ver: para os cristãos, os doentes não são apenas cuidados, compadecidos ou suportados. Neles está presente Cristo, de tal forma que eles nos evangelizam.
Quem está doente, muitas vezes pode ter a sensação de que é um peso para os outros e de que não pode fazer nada. A fé cristã, porém, nos faz ver que “dentro de nosso sofrimento está o sofrimento de Jesus, que carrega conosco o seu peso e revela o seu sentido”.
A doença, portanto, não somente revela a nossa finitude e impõe impiedosamente a consciência de nossa impotência, mas, para quem tem fé, pode ser um momento de configuração pessoal com o Cristo Crucificado e Ressuscitado. O doente percebe que não está só no seu sofrimento.
Ele conta com a presença do “Cristo, Bom samaritano de todos os sofredores”. Descobre também a ternura e a caridade respeitadora e delicada de Maria, a Mãe de Jesus e nossa.
Maria “sabe como se percorre o caminho da dor e do sofrimento e por isso ela é a Mãe de todos os doentes e sofredores”. Como ela não abandonou o Filho e esteve ao pé da sua Cruz, assim também “permanece ao lado de todas as nossas cruzes e nos acompanha no caminho rumo à ressurreição e à vida plena”.
A presença de Cristo nos doentes e a caridade maternal de Maria para com os doentes, nos impulsionam a uma atitude de bondade para com os doentes.
Não se trata apenas de cumprir atos de bondade em favor deles. Realizar ações de solidariedade e de bondade em favor dos doentes é louvável e sempre necessário, mas o papa Francisco nos convoca para algo a mais: trata-se de nos aproximar com ternura daqueles que precisam de cuidado para levarmos a eles a “esperança e o sorriso de Deus”.
Levar a esperança e o sorriso de Deus! Trata-se de fazer com que a dedicação generosa aos demais “se torne estilo”, se torne o jeito quotidiano e permanente das nossas ações. Assumindo esse estilo de vida “damos lugar ao Coração de Cristo e por ele somos aquecidos”.
A doença pode nos despojar de quase tudo. Ela nos priva do vigor físico e da beleza exterior. Pode até tirar a consciência e a razão. A doença, porém, não pode levar embora o que é essencial e importante, pelo contrário, revela com mais luminosidade o que de essencial cultivamos.
A mensagem do papa nos chama a atenção para essa realidade indestrutível, para o mistério presente nos doentes e sofredores. “A cruz é a certeza do amor fiel de Deus por nós.
Um amor tão grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos confere a força para o carregar, entra também na morte para a vencer e nos salvar.
A Cruz de Cristo nos convida também a nos deixar contagiar por este amor, nos ensina a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo para quem sofre, para quem tem necessidade de ajuda”.
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.