Dia Mundial da Saúde
Edgar Steffen
O Eterno disse a Moisés: Faça uma serpente e coloque-a no alto de um bastão.
Aquele que for mordido e olhar para essa serpente viverá. (Números 21:8)
Em 7 de abril de 1948, por indicação de três delegados brasileiros, a ONU criou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a ela subordinada. Para identificação visual da agência criada, acrescentaram o caduceu de Esculápio -- serpente vermelha enrolada num bastão -- ao logotipo da ONU.
O objetivo da OMS é desenvolver ao máximo o nível de saúde para todos os povos. Desde 1950, anualmente, os gestores elegem prioridades para orientar a política de saúde em todos os países participantes.
Neste 2019 a meta estabelece aumentar em 1 bilhão o número de habitantes cobertos pelas redes de saúde e mais 1 bilhão protegidos por ações de emergência em saúde. Para a consecução dessas metas, 10 enfoques:
1ª) Poluição do ar e mudanças climáticas.
2ª) Doenças crônicas e não transmissíveis.
3ª) Pandemia de gripe.
4ª) Cenários de fragilidade e vulnerabilidade.
5ª) Resistência antimicrobiana.
6ª) Ebola.
7ª) Atenção Primária à Saúde.
8ª) Relutância em vacinar.
9ª) Dengue.
10ª) HIV.
Sem pretensão de crítica ou análise, permitam-me algumas observações.
Você não precisa sair de sua casa. Da janela de seu apartamento, consegue enxergar manto cinzento enfeiando o horizonte. O uso absurdo, de veículos movidos a derivados do petróleo, tem ação deletéria aguda (crises de bronquite, asma) e crônica (câncer e fibrose pulmonar) sobre a vida no planeta. Efeitos das mudanças climáticas você os vê quase todos os dias nas telinhas da TV, tablets ou celulares.
Doenças crônicas não transmissíveis -- diabetes, câncer e doenças cardiovasculares -- respondem por 70% dos óbitos em todo mundo. Na base desta estatística, tabagismo, sedentarismo, obesidade, alcoolismo e maus hábitos alimentares.
A pandemia de gripe -- o Big Flu -- é uma espécie de tragédia anunciada. Sabe-se que virá, mas não quando. Até me faz lembrar a quebra da Previdência Social no Brasil.
Em nosso País, cenários de fragilidade e vulnerabilidade são grandes protagonistas na gênese das doenças e mortes. Isto não é culpa nem do PT nem do bolsonarismo. Seca, fome, conflitos, violência, migrações, desemprego e subemprego fragilizam comunidades deste mundo de Deus estragado pelos homens. Calcula-se em 22% a percentagem de habitantes, vivendo nesses cenários no mundo.
Resistência antimicrobiana é outra tragédia anunciada. Em números absolutos, mata mais que o ebola. Em números relativos, o ebola mata muito mais e mais rapidamente; talvez por isso ainda está circunscrito a comunidades precárias da África. Aids, apesar de grandes progressos no controle e tratamento, continua responsável por 1 milhão de óbitos/ano. Os antirretrovirais acompanham antibióticos, antimaláricos no quesito aumento de cepas resistentes.
O vírus da dengue continua fazendo estragos aqui e no mundo. A meta da OMS é reduzir em 50% sua incidência até 2020. Sorocaba está sob ameaça de epidemia de dengue (C.S. 3/4/2019 - Página da Saúde).
Os cuidados primários fazem parte das prioridades eleitas este ano. Pretende-se melhorar o acesso das populações às unidades básicas. Medidas simples e de baixo custo podem ser realizadas e estimuladas nos centros e ambulatórios. O nó está na resolutividade. Ao usuário, não basta ser atendido. Precisa sentir-se atendido.
A OMS acredita reduzir 1,5 milhão de óbitos por doenças preveníveis por vacinação. Vacinas e antibióticos são responsáveis pela diminuição de internações e mortes por doenças infectocontagiosas. A paralisia infantil, por exemplo, está reduzida aos 30 casos confinados no Paquistão e Afeganistão. Cenários de fragilidade e vulnerabilidade -- a Venezuela de Maduro é o exemplo mais próximo -- propiciaram a volta do sarampo. Também os preconceitos e fake news sobre efeitos colaterais das vacinas contribuíram para a volta.
Nota do autor: Quem se interessar pela história da Faculdade de Medicina de Sorocaba pode acessar o documentário “60 Anos e mais” - www.youtube.com/fundacaolamf
Edgard Steffen é médico pediatra e escreve para o Cruzeiro do Sul - [email protected]