Desconstruindo as Boas Festas
Crédito da foto: Aldo V. Silva (15/12/2015)
Et super hanc petram ædificabo ecclesiam meam Et portæ inferi non prævalebunt adversus eam.
(Mateus 16:18)
Edgard Steffen
Hoje, 6 de janeiro, eu e minha esposa começamos a desmontar os símbolos do Natal. Sinos, velas, bolas coloridas, guirlanda e peças do presépio, aos poucos voltaram às respectivas caixas.
Destino idêntico teve o Merry Christmas e o Shalom que, na entrada principal do apartamento, saudavam visitantes e amigos. Todos esses vestígios do Natal ficarão no aguardo das boas-festas de 2020.
Papais-noéis não entraram no rol de nossa desconstrução. Eles tiveram apenas pequena participação na hora dos presentes para os netos e bisnetos. Os pequenos perceberam que o bom velhinho comercial era coisa de shopping, diferente do que deixou os regalos que foram abertos antes do almoço da família.
Shalom -- palavra hebraica -- quer dizer paz, harmonia, integridade. Usada como interjeição significa paz tanto para quem chega como para quem sai. O equivalente em árabe é Salaam. Que mistura é essa de símbolos judaicos (shalom), católicos (imagens) e oriundos de países protestantes (guirlanda e pinheiros enfeitados).
Quase todas peças são produzidas num país governado pelo marxismo ateu. Encaramos a simbologia como função pedagógica. Crianças desde muito cedo são influenciadas pela sociedade de consumo e bombardeadas por ateísmos, enquanto famílias estão cada vez mais longe das igrejas.
Luzes e símbolos natalinos podem ajudá-las a guardar a magia do advento nos escaninhos da memória. As peças do presépio existem -- não para adoração -- para que reflitam o cenário da milagrosa beleza do acontecido em Belém.
Se você contesta a presença dos “reis” magos no presépio, do ponto de vista histórico você está com razão.
Oriundos do Oriente, a passo de camelo, viajando do pôr do sol ao amanhecer (porque seguiam corpo celeste luminoso) levaram meses para chegar até a casa dos pais do Menino-Deus. A figura do Jesus já meio grandinho, em camisola azul, deitado na manjedoura, revela licença poética usada nos presépios.
Os pastores e os animais são coetâneos ao recém-nascido. Encontraram-no envolto em faixas segundo a descrição de Lucas*, porque estavam perto quando se deu o parto da virgem.
Os magos chegaram perto d’Ele quando, grandinho, seria levado ao Egito para fugir da sanha de Herodes. O grande papel dos “reis” -- Baltasar, Gaspar e Belchior, segundo a tradição -- foi reconhecer a divindade, a realeza e a missão salvífica da figura central do presépio.
O que se pode deduzir pelos presentes ofertados: incenso para o Deus, ouro para o Rei e mirra para embalsamamento do Crucificado.
Enquanto procedíamos o desmonte, conjecturávamos como seria bom se as famílias -- inclusive a nossa -- preservassem o genuíno “espírito natalino” o ano todo. O Verbo que se fez carne para habitar entre nós, o fez para que a Paz que excede todo entendimento viesse criar Boa Vontade entre os homens.
Infelizmente, mal passadas as festas, o conflito entre nações volta a ameaçar este mundo. Razões de natureza econômica disfarçada em divergências teológicas e políticas perturbam a paz pós-natalina.
No plano local, difícil engolir a irreverência blasfematória de programa humorístico. Como bem lembrou o indignado ator Carlos Vereza*, um dos significados de “porta dos fundos” é porta do inferno.
Num país onde leis podem condenar e enviar para a cadeia quem brinca com minorias, artistas ofendem e tripudiam sobre a fé da imensa maioria sem que nada lhes aconteça. Como fiéis cristãos temos que os perdoar.
Mas vamos aguardar o cumprimento da promessa: sobre Jesus Cristo -- pedra fundamental da igreja -- nunca prevalecerão as portas do inferno. É o que dizem versículos grafados em latim na abertura deste.
Acreditando nisso, almejamos Salaam, Shalom and Peace na porta da frente deste iniciante 2020.
(*) Lucas 2:12
(**) Carlos Vereza in You Tube condena a blasfêmia do grupo.
Dia de Reis, 2020
Edgard Steffen é médico pediatra e escritor. E-mail: [email protected]