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Das Bandeiras

23 de Novembro de 2019 às 00:01

Das Bandeiras Crédito da foto: Fábio Rogério / Arquivo JCS

Edgard Steffen

Decreto nº 4, assinado pelo Marechal Deodoro da Fonseca instituiu a nova bandeira nacional aos 19/11/1889.

Escrevo neste 130º aniversário da bandeira republicana, elaborada por Raimundo Teixeira Mendes, Miguel Lemos e Décio Villares. Inspiraram-se no pavilhão do Império, criado por Jean Baptiste Debret.

Não sei como é hoje. No meu curso primário, sob o ufanista Estado Novo de Vargas, professoras nos ensinavam que o quadrilátero verde representava as matas, o losango amarelo nosso abundante ouro, enquanto o círculo azul, salpicado de estrelas era nosso lindo céu. As estrelas para representar os estados. A faixa branca significava nosso pacifismo e trazia lema positivista autoexplicatório.

Os versos de Bilac reafirmavam essa interpretação. “Em teu seio formoso retratas / Este céu de puríssimo azul / A verdura sem par destas matas...” Perfilados, com a mão sobre o lado esquerdo do peito juvenil, saudávamos com afeto o lindo pendão da esperança, símbolo augusto da paz de um país que, amado por seus filhos seria poderoso... um dia. Duro é esperarmos esse dia até hoje.

Nosso ouro mingou e, pela extração ilegal, contribui para envenenar os rios. Nosso firmamento já não é tão azul. Nas cidades pela poluição dos combustíveis fósseis. Nos campos, pela fumaça das queimadas. Nossas verdes matas reduzidas a uma nesga do bioma atlântico, ao cerrado central e à hileia amazônica. Esta, que já foi cognominada pulmão do mundo, parece tossir diante da ação predatória das madeireiras e da insanidade das queimadas. Querem produzir proteína, da soja ou gado, sem atentar ao perigo da desertificação.

O que era para ser apenas a deposição de um ministério -- por militares insatisfeitos -- num átimo derrubou o Regime Imperial e implantou o Republicano. Surpreendidos pela rápida evolução dos acontecimentos, os novos governantes tiveram que correr atrás da renovação dos símbolos nacionais (hino, brasão, bandeira e heróis). Andaram usando a Marselhesa até o povo protestar. Promoveram a herói Joaquim José da Silva Xavier -- o Tiradentes, propositalmente ignorado pelo Império. Artistas devidamente instruídos puseram-lhe barba (que não tinha) e vestiram camisolões (que nunca usou) para sugerirem semelhança a Jesus Cristo.

Apareceram várias propostas de bandeira. Algumas semelhantes à dos USA, mas com listas verde-amarelas. Resolveram manter a do Império -- apesar de o verde louro ser referência à dinastia de Bragança, e o amarelo à casa de Absburgo, origem da Imperatriz Leopoldina -- mas retiraram o brasão imperial do centro do losango. No navio de guerra Almirante Barroso, em viagem nos mares do oriente, o comandante Custódio de Melo improvisou pavilhão. Substituiu o selo imperial por uma estrela vermelha de cinco pontas. (Só pra deixar claro, não fundou o PT.)

O símbolo da pátria republicana obedecia à 4 das 5 bases recomendadas pela Vexilologia para se criar uma bandeira: simplicidade, simbolismo, poucas cores e distintividade. Desobedeceu apenas à recomendação “ausência de inscrições”.

Bandeiras de países muçulmanos (Arábia Saudita, Irã, Afeganistão entre outros) citam Alah único deus e/ou Maomé único profeta. Dos estados brasileiros, a do Piauí, tem campo azul e num retângulo no canto superior direito, estrela branca e a data 13 de março de 1823 (dia da Batalha de Jenipapo na Guerra da Independência). Na de Minas Gerais, triângulo vermelho sobre fundo branco e a inscrição Libertas quae sera tamem. O estandarte da Paraíba é retângulo preto (luto) e vermelho (sangue) e a palavra NEGO, expressão usada por João Pessoa (1878-1930) para não aceitar a candidatura Júlio Prestes. Refere-se ao assassinato que desencadeou a Revolução de 30.

Pensando bem, o escrito em verde na faixa branca que cruza o azul, não enfeiou o lábaro estrelado. Ficaria melhor se tivessem mantido o Amor. O que Augusto Comte escreveu era: O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim. Nestes conturbados dias, um pouco de amor -- aos próximos e à Pátria -- muito ajudaria.

Fontes de consulta:

Empresa Folha da Manhã e Zero Hora/ RBS Jornal -- História do Brasil -- Edição para Assinantes, 1997

Gomes, Laurentino -- 1889 -- Editora Globo, 1ª edição, 2013

Dia da Bandeira, 2019

Edgard Steffen é médico pediatra e escritor. E-mail: [email protected]