Simei Lamarca

Sessenta anos atrás, quando o primeiro campeão do Cruzeirão ergueu uma taça e recebeu sua medalha, talvez ele não tivesse se dado conta de que tinha em suas mãos e em seu peito um pedaço da história de Sorocaba. Mas não um pedaço qualquer, daqueles que ficam estáticos em uma prateleira ou presas em armários.

Tinha um pedaço vivo, que vibra e aumenta de importância a cada toque de bola, em todo gol marcado ou grande defesa feita; que cresce com o apito da arbitragem e no barulho da torcida que incontáveis vezes fez, em coro, aumentar a paixão que temos pelo esporte.

Esse atleta não sabia, ele próprio parte essencial do sentimento de amor que todos temos pelo Cruzeirão, da sua importância. Em sua casa, na medalha conquistada, e em tantas outras distribuídas em 60 anos, temos mais que um símbolo vitorioso do esporte. Mora ali um pedaço dos sonhos de cada um dos sorocabanos, dos que almejam a vitória e a constróem em suor e lágrimas, assim como quando perdemos e não estamos preparados para isso. Mas no esporte não se perde. Nem todos são campeões, é verdade. E às vezes não percebemos que estamos ganhando de outras maneiras.

O Cruzeirão tornou-se o maior torneio de futsal do País. Dizem que talvez seja até o maior do mundo. Sabemos que é o mais querido e democrático; único capaz de reunir equipes profissionais e amadoras, integrando gente que treina todos os dias e aqueles que dividem a esperança de jogar entre os grandes e reúnem os amigos de empresas ou igrejas, formando equipes.

Ter uma medalha do Cruzeirão, sagrar-se campeão, é sem dúvida a maior honraria que alguém pode conquistar em Sorocaba. Não que as outras homenagens e condecorações não tenham importância, mas nenhuma tem tanta vida quanto a medalha do torneio, carregada de ideais e sonhos, assim como cada sorocabano que almeja o progresso sem abrir mão das tradições.

Os melhores sonhos são aqueles que construímos em conjunto e tornamos realidade, trazendo para perto quem possa contribuir para o seu sucesso. Sessenta anos passados daquele momento mágico, daquela primeira medalha entregue. Temos orgulho do que o sonho se transformou.

Hoje, Sorocaba é nacional e internacionalmente conhecida como uma cidade que valoriza o esporte e que forma grandes campeões. A prática esportiva é uma aliada importante para a construção dos cidadãos de amanhã. Nenhuma outra cidade do país dá tanta importância para o esporte de base e para a inclusão social a partir da prática esportiva como nós. Não deixa de ser uma lição que aprendemos com o nosso maior símbolo, com milhares de histórias escritas a suor e gritos, palmas e lágrimas, dentro

das quatro linhas e a torcida de cada um dos nossos irmãos ou filhos. É certo, portanto, afirmar, que o Cruzeirão é um patrimônio da nossa terra e da nossa gente, dessas conquistas que temos que valorizar e apoiar com carinho.

Agradecemos, com essa medalha, o seu empenho por manter viva a nossa história, pela sua contribuição e apoio não somente ao Cruzeirão e ao futsal, mas ao esporte sorocabano; por perceber que juntos somos melhores.

Atual secretário de Esportes de Sorocaba, Simei Lamarca é ex-jogador profissional de futsal e também o maior vencedor do Cruzeirão, com cerca de 20 títulos conquistados em suas diversas categorias -- história que começou ainda no Torneio Cruzeirinho. É, por isso, chamado de “Sr. Cruzeirão”.