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CrossFit causa mais lesão que outros esportes?

05 de Março de 2020 às 00:01

Tulio Pereira Cardoso

Greg Glasmann, preparador físico sem formação universitária e vítima de poliomielite na infância, criou o CrossFit em 1995 em Santa Cruz, no litoral da Califórnia nos Estados Unidos. Após ser recusado em várias academias de ginástica, montou seu curso de treinamento para um grupo de policiais e bombeiros, e depois treinou o Exército Norte-Americano e a Special Weapons And Tactics (Swat). A principal meta do CrossFit é superar seus limites. Também conhecido como HITT “high intensity interval training” ou “treinamento intervalado de alta intensidade” é método que combina movimentos funcionais de alta intensidade e variação constante, e envolve muitas capacidades físicas em uma única sessão, caracterizado por treinamento de força e condicionamento físico, com o intuito de promover uma vida saudável. Explora basicamente 10 capacidades do corpo humano: resistência cardiorrespiratória, resistência muscular, força, flexibilidade, potência, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão. Estudo realizado no Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em 2015, e publicado no Orthopaedic Journal of Sports Medicine (1), coletou dados de 566 praticantes de CrossFit em centros certificados. A idade média foi de 31,4 anos, sendo 243 mulheres e 323 homens. Foi detectado algum grau de lesão em 31% dos indivíduos, mas as taxas foram comparáveis àquelas dos praticantes de outros esportes. Vale salientar que o futebol teve duas vezes mais lesões. Estudos (2,3) que comparam número de lesões por 1.000 horas de prática, demonstraram 3,1 lesões no CrossFit, contra 18,3 no squash, 16,3 no judô, 7,8 no futebol, 7,0 no vôlei e 4,7 no tênis. Esportes como natação e práticas recreativas como caminhar e dançar tiveram menos lesões. 381 praticantes de CrossFit quatro a cinco vezes por semana em sessões de 30 a 60 minutos, estudados durante seis meses, apresentaram 19,4% de lesões sendo 25% no ombro, 14,3% na coluna lombossacra e 13,1% no joelho (4). Já em corredores de longa distância e praticantes de várias formas de atletismo, a incidência de lesões foi quatro vezes maior (5). Em outro estudo comparativo (6) analisando número de lesões a cada 1.000 de prática, encontrou-se 3,1 lesões no CrossFit, taxa similar à encontrada em ginástica, levantamento de peso e no rúgbi. Já no futebol masculino a taxa foi de 4,2/1.000h, no futebol feminino 5,2 e no futebol americano praticado nas High School a taxa foi de 140 lesões por 1.000 horas de prática. A revisão de literatura (7) mostra que o CrossFit está associado a resultados benéficos para a saúde de forma geral, que culminam na melhora e desenvolvimento das capacidades físicas, e que as incidências de lesões são relativamente baixas comparadas a outros esportes. Então temos que a prática do CrossFit bem orientada é benéfica, pode ser praticada com segurança por indivíduos de 18 a 69 anos, e as lesões mais frequentes acometem os ombros, coluna lombar e joelhos (8). É importante lembrar que o excesso de exercício físico, com esforço desproporcional, pode ocorrer também no CrossFit pela ansiedade do praticante em superar seus limites além do razoável. Cuidado, isso pode causar a rabdomiólise que é uma síndrome que provoca destruição muscular com liberação de algumas proteínas na corrente sanguínea podendo ocorrer a falência dos rins o que nas situações mais graves pode levar à morte.

Como prevenir lesões no CrossFit e na pratica esportiva de modo geral? Obedeça algumas regras. A primeira sem dúvida é respeitar o seu corpo. Aprenda a conhecer seus limites de tolerância, suas habilidades e seu talento. Outro ponto fundamental é fazer o que gosta ou talvez gostar do que faz! E certamente escolher uma academia ou box de CrossFit certificada e orientada por professores especializados e credenciados. Uma avaliação cardiológica e ortopédica antes de iniciar qualquer atividade física é fundamental e pode salvar sua vida. Prevenir é melhor que remediar.

1. Orthop J Sports Med. Aug; 4(8), 2016

2. J Strenght Cond Res. Nov 22, 2013

3. Int J Sports Med Apr;25(3):209-16, 2004 4. Orthop J Sports Med. Apr; 2(4), 2014

5. Br J Sport Med.;41(8):469480, 2007

6. J Strength Cond Res., 2013

7. Trabalho para obtenção de Título de Bacharel em Ciências do Esporte, Unicamp, 2017

8. Fisioter Pesqui.;25(2):229-239, 2018

Dr. Tulio Pereira Cardoso é Especialista pela Soc. Bras. de Ortopedia e Traumatologia, Membro Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho. E-mail: [email protected] #drtuliocardoso