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Edgard Steffen

Em julho, duas grandes nações comemoram sua

Data Magna: Estados Unidos (04) e França (14)

Neste conturbado 2020, não puderam comemorar nem com foguetório nem com pompa e circunstância. Um ser submicroscópico pôs de joelhos as duas nações. Desses países vieram ideias que transformaram ampla e profundamente a organização da sociedade ocidental. Influenciada pela Independência Americana (1776) e pelo Iluminismo, a Revolução Francesa deu início à Idade Contemporânea (de 1789 até nossos dias). Aboliu a servidão, os direitos feudais e proclamou princípios universais de Liberté, Egalité, Fraternité.

A grande Nação do Norte vive hoje a fase mais grave da pandemia que assola o planeta. A maioria das cidades, para evitar aglomerações, cancelou o tradicional desfile do Independence Day e reduziu a duração da queima de fogos; confinados, os americanos assistiram ao foguetório pela televisão.

Na comemoração da Queda da Bastilha, a equipe do governo esteve em peso, mas o tamanho do desfile foi controlado para evitar excesso de contato físico. Agnès Pannier-Runacher, Ministra da Economia, desce apressada do carro e leva um susto. Em pânico, cobre o rosto com a palma da mão. Imagino tenha dito Merde! J’ai oublié le masque! (M...!Esqueci a máscara!). Esta seria a reação de uma pessoa comum. Inúmeras câmeras registraram as imagens. Se você acreditar nas palavras que imaginei terem saído da boca da ministra, criaremos fake-new.

A Revolução Francesa legou-nos frases e símbolos que nunca perderam a atualidade. A Marselhesa é um dos mais belos hinos pátrios. A identificação Direita e Esquerda, usada até hoje, nasceu na Assembleia que pretendia controlar o absolutismo dos luízes. Os moderados e conciliadores girondinos postavam-se à direita do Presidente enquanto os exaltados e radicais jacobinos sentavam-se à esquerda da presidência.

A sequência de reis Luízes de XIII a XVI teve duas características marcantes. Todos eram absolutistas e nenhum conseguiu coroar o filho sucessor. Sarampo e varíola cuidaram em matar delfins antes dos monarcas.

“Je suis la Loi. Je suis l’État. Le État c’est moi!” (Eu sou a Lei. Eu sou o Estado. O Estado sou eu!) Esta frase teria sido pronunciada, em 13 de abril de 1655, por Luiz XIV durante uma sessão no Parlamento francês. Absolutista o “Rei Sol” governou o país por 72 anos e 100 dias.

Lucubro. Tivemos versões tapuias do “quem manda sou eu” nos anos 40/50. Sob protestos da oposição, folclórico vereador teria soltado um “nois tá por cima, nóis faiz o que qué!” E o ditador Vargas, alertado por ministro de que a concessão de benefício a aliado era ilegal, teria dito “A lei? Ora a lei...” antes de assinar o decreto.

Après moi, le Déluge (Depois de mim o Dilúvio) frase atribuída a Luiz XV (bisneto do 14). Vaticínio ou cinismo? O dito previa a queda da monarquia, acontecida quinze anos após. Ou significar “que me importa”, quando acontecer já não estarei por aqui.

Qu’ils mangent de la brioche! (Que comam brioches!) talvez seja a frase mais emblemática da Revolução Francesa. Rousseau -- o mesmo da “liberdade, igualdade, fraternidade” -- a teria atribuído a uma certa princesa diante de protesto pela falta de pão. Maria Antonieta, esposa de Luiz XVI, detestada por ser austríaca, acabou levando a culpa. A bela rainha era gastadeira mas não alienada. Um dos fatores que desencadeou a revolução foi a terrível decadência econômica da França; o salário de um mês dava apenas para comprar uma simples baguete.

Imaginem alguém perguntando -- Por que Vossa Alteza disse isso? -- Porque perdi a cabeça! Seria vaticínio. A guilhotina desceu sobre o pescoço da rainha em 16 de outubro de 1793.

Liberdade, igualdade, fraternidade foram conquistas a partir da Revolução Francesa. Mas são frutos a serem cultivados e aperfeiçoados. Naqueles conturbados dias, aos nobres a rápida guilhotina. Aos pobres, a sufocante forca. Egalité?

Edgard Steffen é escritor e médico pediatra - E-mail: [email protected]