Controle biológico aliado a novas tecnologias: Uma alternativa sustentável
Jhones Oliveira, com Ricardo Polanczyk e Leonardo Fraceto
A expansão da atividade agrícola para atender a crescente demanda por commodities e alimentos tem nos fatores abióticos e bióticos os principais entraves ao seu desenvolvimento, e mesmo com os avanços tecnológicos das últimas décadas, os danos causados por pragas e doenças continuam a ser uma das principais preocupações na luta pela segurança alimentar.
Na tentativa de garantir a produção, os agricultores muitas vezes utilizam de forma incorreta os agrotóxicos, o que resulta em danos para o meio ambiente e organismos não alvo. Entretanto, o alto custo de novas moléculas com potencial inseticida, relatos cada vez mais frequentes de resistência das pragas aos inseticidas e a preocupação crescente do mercado externo sobre a presença de resíduos de agrotóxicos nos commodities brasileiros torna necessária uma alternativa ao modelo atual de agricultura, onde se busque a sustentabilidade agrícola; ou seja, alta produtividade sem afetar o meio ambiente.
Neste sentido, os agentes de controle biológico têm contribuído historicamente para o controle de pragas agrícolas. Em 1888, a joaninha Rodolia cardinalis foi exportada para os EUA visando ao controle do pulgão branco dos citros (Icerya purchasi). O Manejo Integrado de Pragas (MIP) soja, desenvolvido na década de 1980 pela Embrapa soja e instituições privadas, é considerado exemplo em termos mundiais, devido à redução significativa do uso de inseticidas. Desde 2012, bioinseticidas a base da bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis (Bt) controlaram de forma efetiva surtos de Helicoverpa armigera e Chysodeixis includens na cultura da soja. Deve-se ressaltar que os inseticidas disponíveis têm falhado no controle destas pragas e que este fato tornou o Brasil maior usuário destes bioinseticidas, com 65% do mercado mundial.
Como citado acima, o Bt é um importante organismo de controle biológico, devido a sua elevada eficácia, especificidade e amplo espectro de ação. No entanto, apesar da grande potencialidade problemas relacionados à perda de estabilidade e principalmente degradação rápida pela ação da luz ultravioleta e temperatura impediram que produtos à base de Bt ocupassem lugar de destaque no mercado de vendas de inseticidas frente aos químicos convencionais.
Desta maneira, pesquisas em novas tecnologias que possam explorar e melhorar a estabilidade do Bt são de extrema importância. A microencapsulação tem se mostrado uma técnica promissora para encapsulação de organismos. Essa tecnologia consiste no revestimento ou aprisionamento dos organismos dentro de um material polimérico, o qual é permeável a nutrientes, gases e metabolitos, permitindo a viabilidade além de melhorar a estabilidade e eficácia dos organismos.
A Unesp tem desenvolvido pesquisas relacionadas à microencapsulação de organismos de controle biológico. Em recém-aprovado projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), tendo como pesquisador responsável o professor Leonardo Fraceto (Unesp/Sorocaba) e como pesquisador principal o professor Ricardo Polanczyk (Unesp/Jaboticabal), serão investigados a microencapsulação de Bt a fim de estudos de eficácia e também mecanismos de ação em organismos alvos. Neste projeto ainda, serão estudados em conjunto com outros pesquisadores os mecanismos de ação e toxicidade de nanopesticidas. Mais informações podem ser obtidas em: https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/101291/agricultura-micronanotecnologia.
Desta maneira espera-se que em breve essas tecnologias possam gerar novos produtos que auxiliem no MIP trazendo benefícios à agricultura, sociedade e ao ambiente.
Jhones Oliveira é pesquisador no Instituto de Ciências e Tecnologia de Sorocaba (ICTS)/Unesp, Ricardo Polanczyk é professor associado da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp-Jaboticabal e Leonardo Fraceto é professor Associado do ICTS/Unesp.