Buscar no Cruzeiro

Buscar

Construindo memórias e ressignificando momentos

02 de Maio de 2020 às 00:01

Lucimeire Prestes de Oliveira Tomé

Se alguém dissesse há um tempo atrás, que viveríamos essa experiência que estamos vivendo, diria que estaria louco ou mentindo.

É impressionante o que hoje vivemos em nível mundial. Estamos conectados no mesmo canal - Covid-19, vulgo coronavírus.

A sensação de pertencimento ao universo é inerente a todos, sem exceção. O medo, a insegurança, a preocupação e a ansiedade pertence a todos nós. Os seres humanos estão nesse momento partilhando e vivenciando os mesmos sentimentos. Literalmente no mesmo barco. Alguém, em sã consciência, poderia imaginar que viveria algo parecido? Em todo o mundo? Só nos filmes de ficção mesmo.

E agora estamos aqui nesse mundo, cada pessoa reclusa em suas casas e passando por algo considerado inimaginável.

São tantas as notícias, brincadeiras, piadas, reflexões, pois cada um passa pela situação à sua maneira. E que bom que é assim, pois somos pessoas diferentes.

Quando preciso ser sério, me conecto àquele que me oferece as últimas informações sobre a pandemia. Quando quero rir um pouco, vejo piadas no Instagram, Youtube e me distraio e choro de tanto rir, como se não houvesse o amanhã. Busco ainda reflexões, mensagens, orações e nesse momento cuido da minha espiritualidade. E como é bom ser dessa forma. Viva a diversidade!

E no meio de toda essa situação preocupante que vivemos, paira no ar um sentimento nobre. Considero o maior de todos. Sentimento que nos conecta à divindade e também nos conecta enquanto ser humano uns aos outros - o amor.

Melhor ainda. Amor pelo próximo. Impressionante como estamos aprendendo rápido essa lição. Lição ensinada há dois mil anos pelo Mestre. Jesus amou o próximo sem medida. Se doou e amou sem fazer distinção de raça, gênero, credo...Simplesmente amou.

Nos deixou essa grande lição - amar o próximo. Porém como a humanidade é teimosa e custa aprender e talvez nesses últimos tempos estávamos realmente pisando na bola, vem à mente o velho ditado -- se não aprendemos pelo amor, aprendemos pela dor. E é exatamente o que vemos acontecer hoje. Aprendemos a amar o outro através da dor do momento que vivemos. Momento que nos causa medo de perder quem amamos e medo de ser o responsável pelo adoecimento do outro. Pois é, estamos aprendendo direitinho e realizando a tarefa. Ficamos em casa reclusos para proteger quem amamos, proteger o inimigo e também o desconhecido. Lição aprendida.

E sem parar por aqui, vem mais uma lição. Ficamos em casa com a família. Momento de ressignificar as relações. Como ouvi da minha vizinha (através da varanda, pois estamos cada uma em sua casa), - agora vamos ver se o casamento é bom! Dei muita risada com a observação dessa minha amiga mineira, mas é bem isso. Agora vamos ver se as relações entre marido e mulher são boas, entre pais e filhos, entre irmãos e por aí seguimos. E o melhor, se não for do jeito que gostaríamos, temos tempo nessa quarentena para melhorar e cuidar um dos outros. Para cada um será dado a oportunidade de dar um novo sentido à sua existência no contexto familiar.

E observando minhas netas Maria e Aurora com seus pais- minha filha e meu genro, não posso deixar de pensar na qualidade das memórias afetivas que estão sendo construídas no interior dessa família jovem que tanto amo. Amarelinha no chão do quintal, confecção de jogos, pinturas nas folhas, bolo na cozinha, ginástica no tapete da sala e o principal, mamãe e papai disponível, fisicamente e emocionalmente. Nesse momento haja criatividade para os pais jovens!

Tentando ver o lado positivo disso tudo e ressaltando a inocência inerente à infância, daqui alguns anos se alguém perguntar para essa geração de crianças como foi o coronavírus e a reclusão, com certeza haverá um explosão de vozes que virão diretamente do coração desses pequeninos - “nossa, foi tão gostoso, minha família ficou juntinha dentro de casa e brincamos muito uns com os outros. E o melhor, meus pais tinham tempo para todas as nossas brincadeiras.”

Finalizando essa reflexão, sabemos que esse momento de dor e preocupação existe. Claro que tentei abordar esse assunto extremamente sério da forma mais suave e esperançosa possível. Realmente desejo que a maior parte da população possa aprender sem sofrer a separação de suas pessoas queridas, mas o futuro a Deus pertence. Sabemos que será mais sofrido para uns do que para outros, mas não será eterno. É fato que a alegria não é eterna e o sofrimento também não será.

Que possamos como pessoas inteligentes e resilientes que somos, aprender a melhor lição dessa situação para as nossas vidas “o Amor continua sendo o sentimento mais nobre e que não tem lugar melhor para estar do que com a nossa família e dentro de nossas casas”.

Amor, Fé e Esperança a todos!

Lucimeire Prestes de Oliveira Tomé é psicóloga, especialista em Psicologia Escolar e Educacional

Galeria

Confira a galeria de fotos