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Conselho e palpite

22 de Setembro de 2019 às 00:01

Dom Julio Endi Akamine

Cuide da sua vida! Essa é uma frase que fecha a porta para os palpiteiros de plantão. Com efeito, muitas vezes os comentários dos outros podem constituir uma indevida invasão da vida e da intimidade pessoal.

Há, porém, ocasiões em que uma ajuda pode ser solicitada e até mesmo ser necessária. São esses os momentos em que buscamos o conselho de outras pessoas porque estamos na dúvida. Evidentemente não buscamos o conselho dos outros para qualquer dúvida, mas para aquela que nos deixa num estado de ânimo de incerteza que paralisa as decisões, que adia indefinidamente as escolhas, que foge das responsabilidades.

Para enfrentar e superar esse tipo de dúvida, a tradição bíblica indica o conselho de pessoas sábias. Quem está na dúvida não deve permanecer passivo; precisa buscar um conselheiro sábio que o ajude.

Aconselhar os que estão na dúvida consiste na arte de orientar as pessoas no caminho da salvação e da vida. É uma obra urgente hoje em dia, dadas as condições de confusão, de mentira e de enganação em que vivem tantas pessoas. Em nosso tempo, se multiplicam desequilíbrios e patologias do espírito. É impressionante o número dos que caem nas práticas ocultistas para encontrar apoio e sustentação.

Todos nós temos necessidade de encontrar amigos que saibam nos dizer palavras boas, que nos ajudem na orientação fundamental de nossa vida. É urgente hoje restabelecer os vínculos de solidariedade entre as gerações (mais velhos/jovens; pais/filhos; avós/netos; veteranos/novatos), restabelecer a relação sadia entre as pessoas para constituir um tecido humano de entreajuda capaz de acompanhar sobretudo nos momentos difíceis da vida.

Aconselhar os que estão na dúvida é uma arte que exige sabedoria, instrução cristã, prática e vivência coerente com a sã doutrina e a capacidade criar relações de ajuda, de escuta e de diálogo.

Vivemos em um mundo culturalmente desenvolvido que exige muito das pessoas religiosas, por isso, as dúvidas de fé podem ser uma ocasião para compreender melhor a fé e nela crescer. Não pensar a fé nos leva a estranhar a própria fé, que é também o primeiro passo para a perder. Por isso, é indispensável que todos os fiéis cristãos se sintam responsáveis pela fé dos outros. Devemos crescer na arte de aconselhar, na capacidade de dizer sempre palavras boas, de oferecer conselhos oportunos, de fazer com que os outros se sintam amparados por nossa amizade, oração e atenção principalmente nos momentos em que a fé é provada.

A via mestra do aconselhamento cristão é a prática da direção espiritual. Mesmo que nem todos possam ser orientadores espirituais, todos podem colaborar para que a comunidade cristã amplie e alargue essa paternidade espiritual que não permite que ninguém se sinta sozinho e abandonado em meio ao mar em tempestade da vida.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.