Combate na luz e nas trevas
Crédito da foto: Felippo Monteforte / AFP
Carlos Brickmann
De um lado, um combate no escuro, contra um inimigo invisível, que se abriga também em nossos melhores amigos, e os usa para atacar-nos. Guerra difícil, especialmente porque o encarregado de comandá-la faz questão de ignorar o que se sabe sobre o inimigo e de se expor a ele. De outro, uma guerra aberta, em que criminosos do grupo Primeiro Comando da Capital, presos em diversas prisões paulistas, supostamente sem comunicação, conseguiram coordenar uma fuga em massa. O que dizem é que o principal líder do PCC, Marcola, preso em Brasília, em penitenciária de segurança máxima, deu a ordem. E o “salve” -- nome que os bandidos dão às instruções que recebem -- é para que matem, assaltem, façam o que quiserem.
Não, não bastava o coronavírus. Cerca de 400 presidiários integrantes do PCC conseguiram fugir de quatro prisões. Consta que 200 foram capturados. Os outros estão nas ruas. Para eles, matar policiais é motivo de orgulho. Até chegam a tatuar um palhaço no corpo, como sinal de que mataram policiais.
É uma fase sombria, com riscos múltiplos. O que se ouve dizer -- tomara que seja falso -- é que o objetivo é gerar tanta tensão que as autoridades sejam obrigadas a reduzir as restrições impostas aos chefões do crime organizado. E, lembremos, o clima já é tenso, devido ao coronavírus, mas não apenas a isso: os policiais ganham mal, não têm coletes à prova de bala suficientes, seu armamento é inferior ao dos bandidos. Sérgio Moro terá alguma ideia?
Mas é Carnaval 1
Boa parte da comitiva que acompanhou Bolsonaro aos Estados Unidos está com coronavírus. Ele, em vez de cumprir quarentena, saiu do Palácio para confraternizar com os manifestantes, no domingo. Abraçou-os, apertou mãos, tirou selfies, tudo aquilo que não deveria fazer para proteger sua saúde e para evitar contaminar algum de seus adeptos. Foi criticado pesadamente por isso, mas não deu a menor bola para a saúde dos outros.
Mas é Carnaval 2
Muitas das Excelências que o criticaram por ir a uma manifestação quando o que se requer é o mínimo de contato entre as pessoas -- como os governadores Doria, Witzel, Ibaneis, e o presidente do Supremo, Toffoli -- foram a uma festa em ambiente fechado para 1.300 convidados, lançamento da CNN Brasil. Todos arriscaram a saúde, mas sabe como é: vão desagradar a quem dá notícias? Como diz a marchinha, aquele cordão cada vez aumenta mais.
Cuidar de doentes? Para quê?
Neste março faz um ano que a terapia VNS para epilepsia deveria estar sendo oferecida pelo SUS. Um decreto do Ministério da Saúde, de setembro de 2018, mandava incluir a terapia VNS no SUS no prazo de até seis meses -- que venceu em março de 2019. Em março de 2020, os pacientes com epilepsia resistente a medicamentos ainda aguardam. “O Ministério da Saúde”, diz Maria Alice Susemihl, presidente da Associação Brasileira de Epilepsia, “não cumpre suas próprias determinações”.
Devolvendo!
A defesa do ex-governador fluminense Sérgio Cabral entregou à Polícia Federal 27 joias que ele deixara escondidas com pessoas próximas. Cabral já tinha perdido um anel de R$ 800 mil, que lhe fora dado por um empreiteiro para que ele presenteasse a esposa, Adriana Ancelmo. Agora, a joia mais valiosa é um brinco de turmalina paraíba com brilhantes, que custou R$ 612 mil. A entrega das joias faz parte do acordo de delação premiada de Cabral. Coincide com o pedido de Adriana Ancelmo para que o apartamento em que morava o casal seja liberado, já que pretende viver lá com o novo marido.
Boa ideia
O historiador Daniel Marques, assíduo leitor desta coluna, sugere que os inacreditáveis R$ 2 bilhões destinados à campanha eleitoral sejam usados no combate ao coronavírus. Este colunista assina em baixo.
Carlos Brickmann é jornalista. E-mail - [email protected] - Twitter: @CarlosBrickmann