Colagens para o Dia das Mães
Crédito da foto: Vanessa Tenor
Edgard Steffen
“Eu queria que esse dia fosse um dia de sentimento, não de lucro!”
(Anna Jarvis, em protesto contra a mercantilização, 1923)
Menos xiita que a idealizadora do Dia das Mães, sou a favor que mães sejam presenteadas nesta data especial. Presenteá-las tomando cuidado para não as brindar com artigos de tanque, forno ou fogão. Estes podem ser úteis, mas sugerem serviços e obrigações, na data em que deveriam sugerir amor e carinho. Se o lar carece desses artigos, há outros trezentos e sessenta e quatro dias para adquiri-los. Oferenda maior continua sendo o Amor... E amor não se fabrica em indústrias nem se vende em lojas.
Pensando nisso, resolvo usar este espaço para uma colagem de canções escritas ou gravadas em homenagens às genitoras.
B.J.Thomas fez enorme sucesso com “Rock and Roll Lullaby” (1972) cuja letra refere-se a mãe-criança (16 anos), solteira, que crescia junto com seu filho embalando-o com um rock de ninar. Sempre que eu chorava / Ela me acalmava e secava minhas lágrimas / com um rock and roll de ninar. Só para lembrar. A música foi trilha sonora de “Selva de pedra”, novela que alcançou 100% de audiência em seus capítulos finais.
Da ópera “Porgy and Bess”, a música mais conhecida é “Sumertime¹”. Bess, a mãe, aquieta seu bebê -- So hush little baby, don’t you cry -- porque nada poderá feri-lo enquanto ela (com Porgy, o pai) estiver ao seu lado, até que o filho possa alçar seu voo fora do ninho.
Do cancioneiro italiano, versos de um jovem que volta ao lar materno e se declara feliz. Diz que a ama tanto ainda que esta declaração esteja fora de moda. E arremata: Mamma, ma la canzone mia più bella sei tu Sei tu la vita e per la vita non ti lascio mai più.²
Na mesma linha do filho que retorna à casa materna, podemos ouvir Chitãozinho e Xoxoró: Pegue a viola e a sanfona que eu tocava / Deixe o bule de café em cima do fogão de lenha e uma rede na varanda. / Arrume tudo, mãe querida, seu filho vai voltar. / Mãe eu lembro tanto a nossa casa / e as coisas que falou quando eu saí / Lembro do meu pai que ficou triste / e nunca mais cantou depois que eu parti. / Hoje eu já sei, ó mãe querida / nas lições da vida eu aprendi / O que fui procurar aqui distante /Eu sempre tive tudo e tudo está aí.³
Em “Too-Ra-Loo-Ra-Loo-Ral” (Shannon, 1913) canção baseada no folklore irlandês, o filho distante e saudoso, lembra o jeito com que a mãe o embalava sussurrando uma velha cantiga irlandesa. Apenas uma pequena cantiga. Ele daria o mundo se pudesse ouvi-la cantar outra vez. And I’d give the world if she could sing that song to me this day. A canção foi grande sucesso, anos 40, cantada por Bing Crosby.
Sem esquecer o hino de louvor às mães, de Herivelto Martins e David Nasser: Ela vale mais para mim / que o céu, que a terra, que o mar / Ela é a palavra mais linda / que um dia o poeta escreveu /ela é o tesouro que o pobre / das mãos do Senhor recebeu. Pena que a rainha do lar vestisse avental todo sujo de ovo...
Você pode até não gostar do “Rei”, achá-lo ultrapassado. Mas não pode negar que suas músicas e letras são bem entendidas e transmitem reais afetos. Lady Laura foi a grande homenagem de Roberto Carlos à sua genitora. Tenho às vezes vontade de ser/ Novamente um menino / E na hora do meu desespero / Gritar por você / Te pedir que me abrace/ E me leve de volta pra casa / E me conte uma história bonita /E me faça dormir. / Só queria ouvir sua voz.
Anna Jarvis jamais recebeu presente filial no dia pelo qual tanto lutou. Casou-se, mas não lhe foi concedida a graça de ter filhos.
Para você que os tem, Feliz Dia das Mães!
1 - Sumertime -- George Gershwin & Du Boc, 1935
2 - Mamma -- Cesare A. Bixio & Bixio Cherubini, 1940
3 - Fogão de lenha -- C Costa, M Duboc e Xororó
Edgard Steffen é médico pediatra e escreve para o Cruzeiro do Sul -- [email protected]