Geraldo Bonadio

Acolher o novo sem esquecer que, como tudo o mais, ele tem prazo de validade; apreciar a inovação sem ignorar sua transitoriedade; aceitar partidas que entristecem, sem confundi-las com o fim do mundo são uns tantos pragmatismos que precisamos assimilar e integrar às nossas atitudes, queiramos ou não.

É próprio de cada nova geração questionar e rejeitar os ícones da precedente. Isso é bem visível em nossos dias -- e nem se trata de uma bola nova no bingo da existência. Faz tempo que foi cantada por Faith Popcorn, a Nostradamus do marketing.

Sim. Em dado momento a negação se atenua -- mas é só porquê uma nova leva de iconoclastas começa a quebrar as imagens moldadas e cultuadas por aquela que a precedeu.

Isso assusta? Gostaríamos, em coro com Gilberto Gil, de entoar que tudo continuará do jeito que tem sido? Bem pensando, seria um horror se o nosso desejo infantil -- eternizar nossos castelos de areia -- houvesse se realizado. As praias, congeladas, seriam feíssimas! Onde nossos filhos e os filhos de nossos filhos encontrariam material e espaço para erguer os seus?

A familiarização, sempre doída, com a alternância de partidas e chegadas, é parte do nosso amadurecer. O Eterno, que é, foi e será erigiu esse conviver em requisito do evoluir. E sabe, bem melhor do que nós, porque assim o fez.

Desfrute o quanto possível a doçura das chegadas e o refrigério da permanência. Valorize no convívio antes a intensidade que a extensão. Jamais desperdice um agora. Evite, quanto puder, a troca de um hoje mesmo por dois, três ou não sei quantos amanhãs.

Na sinfonia da vida, seja um solista competente. Concilie -- do jeito que inventar -- fidelidade à partitura e as indispensáveis improvisações.

É o que o Grande Regente espera de você.

"Tudo tem a sua ocasião própria, e todo propósito debaixo do céu tem o seu tempo. Há (...) tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de lançar fora. (...)"

Eclesiastes 3:1-2 e 6

Tradução brasileira

* Geraldo Bonadio é jornalista. [email protected]