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Centros Urbanos

28 de Novembro de 2018 às 00:01

Flavio Amary

Cidades, de maneira geral e historicamente, nasceram em pontos mais altos para poderem ter uma visão do entorno com intuito de se proteger e, quando possível, próximas às nascentes de água ou em vales próximas aos rios, buscando também terras férteis e pastagens.

Com o crescimento das cidades, os centros mantiveram o comércio, diversão, pontos de encontro e as residências foram sendo construídas nos entornos, como as cidades eram pequenas as distâncias poderiam ser facilmente percorridas caminhando e em poucos minutos.

Nas cidades do continente europeu é muito comum existirem dois centros: o histórico, onde se preserva as mesmas características de construção e com forte apelo turístico, com comércio, lazer e principalmente hotéis e o centro comercial, com desenho urbano próximo aos do continente americano.

Nas cidades médias e grandes, uma das consequências do trabalho se concentrar nos centros e as residências estarem no entorno é a grande e crescente dificuldade na mobilidade. Pelo fato das áreas centrais não terem vida fora do horário comercial, são ocupadas por traficantes e usuários de drogas, prostituição e, portanto, há falta de segurança.

É um debate frequente em congressos de urbanistas e pensadores de cidades, pois é uma situação global, alguns municípios, ao reconhecer e constatar o problema, têm buscado soluções e já são vários os exemplos em todos os continentes.

Precisamos distribuir melhor as áreas residenciais, comerciais e industriais não poluentes. A solução mais simples para mobilidade urbana é não precisar se deslocar.

Em nossos planejamentos urbanos devemos levar em conta que as cidades precisam de células e regiões onde as pessoas possam morar, trabalhar e se divertir, levando e incentivando moradias para as regiões centrais e trabalho para as periferias.

A cidade de São Paulo criou incentivos para melhorar a ocupação residencial na região central e incentivos, também, para a criação de empregos na zona leste. Ainda bastante recente, mas conceitualmente correto.

Ao levarmos vida, fora do horário comercial, para nossos centros certamente teremos mais possibilidades de fomentar as atividades de cultura e lazer, pois, usualmente, os centros dispõem de toda a infraestrutura e sua ocupação costuma ser a menos custosa para todos.

Uma forma é regulamentar a reabilitação de prédios históricos, o retrofit. Devemos manter nossa história, mas ao restringirmos o seu uso, estamos no caminho oposto. São vários os exemplos, em cidades brasileiras, de que com intuito de preservar, os prédios foram destruídos por abandono, invasão e incêndio.

Prédios antigos podem ser, com uma norma especifica, um bom caminho para a oferta de moradia. Podemos, com investimento privado e com uma legislação adequada, oferecer, dentro de uma política de locação social, moradia para atender a população mais carente, inclusive para os moradores de rua dos centros urbanos.

Tenho certeza que, com uma ação articulada pelo poder público e com investimento privado, podemos buscar melhorar as condições de nossos centros, pois um maior dinamismos, fora do horário comercial, traz uma melhora na atividade econômica.

Levando mais pessoas para habitar regiões centrais, gastamos menos tempo em deslocamentos e ganhamos em qualidade de vida.

Movimentos urbanísticos não têm efeito imediato, é um processo que exige planejamento, consistência e visão de longo prazo. Mas precisamos começar e principalmente manter a direção correta.

Flavio Amary é presidente do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP) e reitor da Universidade Secovi -- [email protected]