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Carnaval e Ortopedia

20 de Fevereiro de 2020 às 00:01

Tulio Pereira Cardoso

Carnaval é uma festa popular comemorada em todo o mundo desde a antiguidade. Apesar de algumas pessoas acharem que é festa do demônio, na verdade é uma festa cristã que precede em torno de 40 dias, a Quaresma, a celebração da Páscoa ou da ressureição de Cristo.

Daí a origem da palavra do latim, “carna vale” que significa “adeus a carne”. É o jejum que deveria ser observado pelos cristãos nesse período além de sugerir o afastamento dos prazeres mundanos. E parece que muita gente, inconscientemente talvez, tente “aproveitar o Carnaval” como se o mundo fosse acabar na quarta-feira.

Uma característica dessa festa é a inversão de papéis. Homens se fantasiavam de mulher, como hoje em dia. Na antiguidade, reis e nobres assumiam o papel de escravos e esses alimentavam-se como nobres e dormiam com as esposas destes. Os bacanais romanos ou festas dionísicas dos gregos, eram o protótipo do Carnaval. Embriaguez com muito vinho e entrega aos prazeres da carne. Essa subversão de papéis sociais nem sempre acabava bem. Escravos eram mortos ao final da festa.

Na Veneza dos Doges, os nobres que também gostavam da festa e queriam participar com a “galera” como se diz hoje, usavam máscaras para não serem reconhecidos pelo povo. Talvez esteja aí a origem do uso desse adereço.

Durante o Renascimento, principalmente em Florença, carros decorados conhecidos como trionfi eram acompanhados em desfile por pessoas cantando. Essa deve ser a origem das escolas de samba e dos desfiles de Carnaval. No Brasil colonial o Carnaval começou com uma brincadeira portuguesa muito popular entre os escravos, conhecida como entrudo. Artefatos semelhantes a uma bomba de pulverização eram preenchidos com urina, lama, água e o que mais pudessem coletar e eram atirados contra as pessoas. Até membros da família real participavam do entrudo. Ainda bem que esse anti-higiênico costume acabou em meados do século XIX. O fim do entrudo levou o Carnaval para dentro dos salões com os famosos bailes a fantasia e de máscaras. Somente no final do século XIX o Carnaval voltou para as ruas com os cordões e ranchos, e tornou-se a festa mais popular do Brasil.

E qual a relação entre Carnaval e Ortopedia? Infelizmente é o fato de ser um período de apenas quatro dias no qual os acidentes aumentam muito. Dados da Polícia Rodoviária Federal, durante o feriado de Carnaval de 2018, apontam que apenas nas rodovias federais de Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Bahia, ocorreram 249 acidentes graves com 87 óbitos e pelo menos 1.524 feridos, alguns dos quais com lesões graves e irreversíveis. Muitas dessa vítimas são jovens.

No Estado de São Paulo, segundo o Comando de Policiamento Rodoviário da Polícia Militar na Operação Carnaval 2018 foram registrados 812 acidentes com 319 vítimas das quais 21 fatais.

A notícia boa é que o número vem caindo ano a ano. Nas rodovias federais, em 2017 foram 309 acidentes graves com 131 mortes e 1.792 feridos. No Carnaval de 2019 o número de acidentes diminuiu 24% em relação a 2018.

O uso de álcool em excesso, drogas, pouco repouso e muito gasto de energia em infindáveis bailes estão entre as principais causas dessa estatística. Embriaguez ao volante, excesso de velocidade e ultrapassagens proibidas são certamente a combinação fatal para essas ocorrências. O não uso do cinto de segurança, capacete e veículos em mau estado de conservação também são causas de acidente. A legislação mais severa e as campanhas de Tolerância Zero são um fator redutor desses desastres.

A SBOT - Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia promove há anos a campanha “Carnaval sem traumas” cujo lema é “Diversão, saúde e segurança. O melhor bloco deste Carnaval”.

Beber e dirigir aumenta em 65% a chance de colisões frontais, as mais letais. Direção e uso do celular respondem por até 92% desses acidentes. Siga os mandamentos da cartilha sugerida pela SBOT para o Carnaval:

1 - Alimente-se bem principalmente alimentos ricos em carboidratos (frutas, massas e pães)

2 - Hidrate-se. Tome muita água

3 - Cuidado com a mistura de medicamentos, drogas e álcool.

4 - Se beber, não dirija

5- Não use o celular ao dirigir.

6 - Mantenha seu veículo revisado, principalmente se for pegar estrada.

7 - Use o cinto de segurança inclusive no banco de trás.

8 - Crianças até 7 anos sempre no banco de trás e devem usar a cadeirinha

9- Use capacete em motocicletas.

10 - Cuidado com sapatos de salto muito alto. As fraturas de tornozelo e os entorses de joelho aumentam muito no Carnaval.

11 - Use calçados confortáveis e antiderrapantes.

12 - Respeite os pedestres.

13 - Não se envolva em brigas de trânsito.

14 - Redobre a atenção nos cruzamentos, principalmente nas madrugadas

15 - Obedeça os sinais de trânsito e os limites de velocidade.

Não se iluda com mitos como o de que café forte ameniza a embriaguez. Ingestão de álcool, por pouco que seja, diminui seus reflexos de forma importante. Chame um táxi, passe a direção para um amigo ou a esposa, aquele que não bebeu. Aproveite a vida. Bom Carnaval!

Dr. Tulio Pereira Cardoso tem Título de Especialista pela Soc.Bras.de Ortopedia e Traumatologia e é Membro da Soc. Bras. de Cirurgia do Joelho. E-mail: [email protected] #drtuliocardoso