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Cardápio eleitoral

08 de Setembro de 2018 às 08:13

Crédito: Vanessa Tenor

Apesar da crise, muita gente gosta de comer fora de casa, em fim de semana. E a cidade oferece múltiplas opções, pela variedade de preço, de localização e de conteúdo culinário: massas, peixe, costela, churrasco, feijoada, comida japonesa, árabe, mexicana, baiana, mineira, bacalhoada, paella, feijão tropeiro... Paro aqui a lista, mas contei 13 opções, número precisamente igual ao dos presidenciáveis, à espera do nosso voto, no dia 7 de outubro. Talvez seja mais fácil a escolha do restaurante, mas vamos lá, o dever de cidadania fala mais alto que os apelos do paladar.

Está decretado que iremos às urnas, com mais de 147 milhões de brasileiros. O surpreendente e lastimável é que desses, 82% declaram-se insatisfeitos com a democracia no País, segundo pesquisa publicada em maio. As jogadas escusas dentro do Congresso Nacional desmoralizaram os partidos e os passos confusos dos poderes executivo e judiciário obscureceram a nossa jovem democracia. Parece que ela faz água por todos os lados. É preocupante, porque uma parcela significativa da população adulta e uma quantidade considerável de jovens eleitores, que não se consideram fascistas nem adeptos da ditadura, preferem uma candidatura determinada a pôr o País em ordem, imediatamente, a qualquer custo, à bala talvez.

A verdade é que a atual conjuntura exibe um quadro de pessimismo e insegurança do eleitorado. 13 presidenciáveis e um país inteiro a se consertar. O que os move a essa tarefa gigantesca? E quais a verdade e a operacionalidade de suas propostas? E em qual deles acreditar? Imagino uma cena semelhante: um turista em terra estranha, frente a um cardápio em língua que desconhece. Que prato irá escolher?

Não sou nutricionista, mas a vida me ensinou que a boa alimentação respeita duas regras bastante simples. Para quem se alimenta: nem longas horas de jejum nem comer a toda hora. E para quem faz a comida: saber temperar. Equilíbrio e tempero. Essa receita vem a calhar também para quem procura definir seu voto.

Equilíbrio , do latim équo = igual + libra = balança, significa, literalmente, pôr no mesmo nível os pratos da balança. No caso, o peso dos valores, das qualidades, da história de vida do candidato, tudo contrabalançado com o que ele divulga na propaganda eleitoral. E se tempero é a combinação, a mistura, a maneira de preparar e realizar uma iguaria, igual procedimento a gente deveria ter, antes de chegar às urnas, conferindo as informações sobre os candidatos, o que eles sabem e pensam sobre questões básicas, como educação e saúde, e qual o sabor da sua plataforma eleitoral: tem o sal do realismo possível ou só melosas bravatas populistas? Por outras palavras, cuidado com o destempero deles!

Ontem foi Dia da Independência. Não sei se alguém ligou a data às próximas eleições. Mas um mês justinho se abre agora para nossas definições sobre quem escolher para deputado federal, senador e presidente da República. Assim, o cardápio eleitoral é taxativo: devemos, com três votos, tentar ajudar o País na conquista da independência do desemprego, das escolas frustrantes, dos postos de saúde lotados, da economia travada e da corrupção. Sozinho, nenhum eleito para o Planalto faz alguma coisa, lá dentro.

Aldo Vannucchi é mestre em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e licenciado em Pedagogia. Autor de diversos livros, foi professor e diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba (Fafi) e reitor da Universidade de Sorocaba (Uniso) -- [email protected]