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‘Bem-vindo’ no Cine Reflexão da Fundec

09 de Novembro de 2018 às 00:01

‘Bem-vindo’ no Cine Reflexão da Fundec O francês Simon e o iraquiano Bilal: solidariedade e aconchego mútuo. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Na semana passada nesta coluna tratamos, sucintamente, de alguns tópicos referentes ao fenômeno da imigração atual na Europa. Escrevemos que nos filmes que exibiremos neste ciclo, o imigrante é definido como um trabalhador geralmente não especializado que abandona seu país de origem para buscar, em outro país, condições de sobrevivência. Esta definição exclui, por exemplo, cientistas, homens de negócios, milionários.

“Bem-vindo” foi dirigido pelo francês Philippe Lioret. Conta a história de Bilal, um curdo de 17 anos que foge da Guerra do Iraque e chega como imigrante ilegal ao porto francês de Calais, de onde pretende seguir para a Inglaterra. Ele tem dois objetivos: reencontrar Mina, sua namorada curda e tentar tornar-se jogador de futebol do Manchester United. Começa a aprender natação com Simon, um áspero mas afetivo professor francês, para atravessar o Canal da Mancha a nado.

O filme pode ser visto sob duas perspectivas. A primeira é a afetiva, em que é narrada a persistência de Bilal para ir ao encontro da namorada e os obstáculos ao namoro criados pelo pai da moça -- um curdo estabelecido em Londres e que pretende dar à filha um marido abastado. Ao mesmo tempo, presenciamos a crise do casamento de Simon, em processo doloroso de divórcio da esposa Marion, a quem ele ainda ama. A relação entre Simon e Bilal é paternal e, ao mesmo, de aconchego mútuo, porque ambos, por motivos diferentes, são forçados a se separarem das mulheres a quem amam. O convívio com o jovem muda profundamente o quarentão Simon.

A segunda perspectiva diz respeito ao tratamento dado aos imigrantes na França. Bilal enfrenta as noites frias para conseguir a comida que lhe é oferecida por ativistas que se solidarizam com a situação dos imigrantes. De início, Simon mostra indiferença pela condição de Bilal, mas, gradualmente, passa a acolhê-lo e a ajudá-lo. Chega a hospedá-lo em seu apartamento para evitar que ele seja deportado. A solidariedade de Simon ao iraquiano talvez seja inspirada no ativismo de Marion, que fornece várias formas de auxílio aos imigrantes. Este tipo de ajuda é ilegal, uma vez que a legislação francesa penaliza quem, sob qualquer pretexto, ajude imigrantes ilegais. Nestes casos, como sempre acontece, não faltam dedos-duros entre os vizinhos.

Em 2009, quando “Bem-vindo” estreou, Sarkozy era presidente da França. Tomou várias medidas anti-imigração, dentre as quais a deportação de ciganos sem documentação para a Bulgária e a Romênia, países de onde haviam emigrado. O filme mostra, mas não demoniza ostensivamente, a política racista e xenófoba vigente entre a população e as autoridades; nem preconiza a prática de políticas mais humanas. Exibe a virulência do tratamento aos imigrantes e, ao mesmo tempo, mostra o sentimento de humanidade de várias pessoas, incluindo Simon e Marion; e coloca, de forma simultaneamente crua e sensível, o problema humanitário da imigração e leva o espectador a meditar e a ampliar seu conhecimento de um tema tão atual.

Serviço

Cine Reflexão

“Bem-vindo”, de Philippe Lioret

Hoje às 19h na Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita