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Bacon

28 de Julho de 2018 às 15:00

Crédito da imagem: Vanessa Tenor

Em aulas de Filosofia, várias vezes me referi a Chico Toucinho, ao comentar a obra de um autor inglês, hoje pouco lembrado, mas decisivo no início das ciências modernas. Para despertar atenção dos alunos, eu traduzia daquele jeito bem brasileiro e quase íntimo o nome de Francis Bacon, filósofo de intensa e precoce atividade intelectual, que aos dezesseis anos já havia se desencantado com Aristóteles e Tomás de Aquino e optou pela busca de um novo caminho de investigação e domínio da natureza.

Na sua obra principal, Novum Organum, ele explica e justifica seu método, entre outras provas, comparando quem busca o conhecimento do mundo com três tipos de insetos: as formigas, as abelhas e as aranhas. Alguns, Bacon escreve, influenciado pela fábula "A cigarra e a formiga", agem como as formigas, "acumulam e usam as provisões", ou seja, baseiam seus conhecimentos juntando experiências e mais experiências, sem nenhuma análise; outros trabalham confiando apenas na própria cabeça, porque, "à maneira das aranhas, extraem de si mesmos o que lhes serve para a teia "; e há ainda quem faz tudo como se fosse uma abelha, que "recolhe a matéria-prima das flores do jardim e do campo e com os seus próprios recursos a transforma e digere".

Devemos, segundo ele, imitar a posição intermediária da abelha, não seguindo, exclusivamente, as forças da mente, nem tampouco nos limitando ao material oferecido e memorizado pelos contatos com a realidade, mas procurando sempre analisar e elaborar, de forma inteligente e pessoal, aquilo que vemos e recebemos da natureza e da sociedade. Esse caminho proposto por Bacon se recomenda a qualquer pessoa que procura desenvolver seus conhecimentos. Acho oportuno, porém, fazer aqui um salto, levando essa conversa de Bacon para a hora que estamos vivendo hoje, no Brasil.

Está montado o circo pré-eleitoral. Os atores principais são os presidenciáveis, uma dúzia de políticos à cata do nosso voto. Parece que eles em campanha juntam em si, ao mesmo tempo, os três perfis de formigas, aranhas e abelhas.

Como as formigas, desenvolvem intensa atividade. Como elas invadem casas, jardins e campos de cultivo, eles aparecem em todos os cantos, por terra e por avião, na imprensa, na televisão e nas redes sociais. Como candidatos, tal qual as formigas ao ajuntar sua alimentação, eles são infatigáveis e dormem felizes, se encontraram cem pessoas para recebê-los.

Eles também agem como aranhas. Presos à sua teia de ilusões, não apresentam nenhum plano estruturado, caso sejam eleitos, pois se sentem donos da verdade. Têm consigo todos os fios da futura trama de governo. Vão em frente, guiados só pelo próprio sonho de chegar lá. Cheios de promessas, caem naquilo que a sabedoria chinesa nos ensina: "Hábitos começam como teias de aranha, depois viram fios de arame".

O terceiro e o melhor perfil que os presidenciáveis deveriam assumir, seria o da abelha, inseto mais inteligente e social que a formiga e a aranha. Ela sabe tirar das flores do campo a matéria que irá digerir e transformar em mel. Com essa lição, o bom candidato recolheria o melhor das aspirações populares, para transformá-lo na sua plataforma eleitoral e realizar em equipe todo esse processo. Que assim seja!

*Aldo Vannucchi é mestre em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e licenciado em Pedagogia. Autor de diversos livros, foi professor e diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba (Fafi) e reitor da Universidade de Sorocaba (Uniso) - [email protected]