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Autistas famosos

26 de Outubro de 2019 às 00:01

Autistas famosos Crédito da foto: Divulgação

Edgard Steffen

Gostaria de rever meu pediatra Dr. Edgard. Ele ainda está vivo?

Me lembro muito o afeto dele. (Dr. J. O. M. Pompeu, 43 anos)

À pergunta, adversários responderiam -- “Não! Só que esqueceu de deitar”. Amigos e leitores contestariam -- “Vivo! Muito vivo!” Ambos estão certos.

Do alto de meus 88 anos, embora procure estar em dia com o que acontece em meu redor e neste mundo de Deus e dos homens, às vezes faltam-me engenho e arte. Diante do branco penso em deitar-me, isto é, render-me ao far niente da provecta idade. Socorrem-me manifestações de leitores ou fatos gratificantes. Nesta semana duas massagens na autoestima.

Primeira. Ascensão do Cruzeiro do Sul da 30ª para a 19ª posição no ranking dos jornais brasileiros e do 3º para o 1º lugar entre os diários do interior paulista. Considero ter dado minha contribuição, ainda que ínfima.

Segunda. Preparava-me para escrever sobre isso, quando me alertaram de que ilustre pessoa queria saber sobre mim. No YouTube, pude ver que ele, na audiência pública sobre Saúde Mental, abordara aspectos do autismo. Pequeno cronista de um grande jornal, resolvo escrever sobre autistas famosos.

Na ficção, dois personagens de filmes oscarizados.

Raymond Babbit, interpretado no cinema por Dustin Hoffman, jovem capaz de incríveis habilidades matemáticas é herdeiro da fortuna paterna. Desperta a cupidez do irmão herdeiro menor (Charlie Babbit -- Tom Cruise).

“Forrest Gump” (Tom Hanks) excêntrica figura humana -- partícipe de estórias dentro da moderna história americana -- corre pelas estradas dos USA, numa corrida sem sentido. Aglutina seguidores. Gente em busca de nova filosofia ou religião que trouxesse sentido aos agitados anos 60.

Médico pediatra, convivi com crianças autistas. Lembro-me apenas dos casos muito evidentes e daqueles em que a situação autista já era do conhecimento dos pais. Devo ter reconhecido a síndrome menos vezes que a prevalência real. Pouco pude fazer pelos meus clientinhos especiais, porque o tratamento exige equipe multiprofissional, muita atenção e especial carinho.

Na internet¹ encontro 8 autistas famosos. Físicos insuperáveis Isaac Newton e Albert Einstein. Músicos geniais Mozart e Beethoven. Cineastas talentosos Woody Allen e Tim Burton. Gênios da atualidade Bill Gates (Informática) e Leonel Messi (Futebol).

Eu acrescentaria Mary Temple Grandin. Segundo a Revista Time, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo na categoria “heróis”. Revolucionou o manejo dos rebanhos, projetando currais redondos, protegidos do sol gerador de sombras, onde reses se deslocam calmamente sem sustos. Deve ter inferido comportamento analógico com o das crianças autistas que se apavoram frente atos, palavras e gestos que não compreendem de imediato. Antes de se tornar famosa (1996), Mary Grandin, foi criadora da “máquina do abraço”, engenhoca que dava a ela própria (e a outros autistas) a sensação de estar abraçada e protegida contra as apavorantes crises próprias do autismo.

Depois de assistir à palestra proferida sobre Saúde Mental, vou acrescentar à honrosa lista o portofelicense Dr. José Otávio Motta Pompeu², 43 anos, professor e neurocientista do Núcleo de Tecnologia Assistiva Emocional da UFRJ. Com sua equipe e apoio de universidade finlandesa (Turku University of Applied Sciences), concebe um “relógio da felicidade”, projeto de tecnologia assistiva e neurociência que servirá para avaliar o nível de bem-estar das comunidades. O programa medirá as respostas do organismo (temperatura, sudorese, etc) frente as emoções a que está submetido. Dr. Pompeu declarou-se portador do espectro autista. Luta pela substituição dos hospitais psiquiátricos por ambulatórios voltados à saúde mental e na preparação de professores mediadores para entender e assistir crianças em suas crises de autismo.

Com humildade -- própria das grandes almas -- expressa o desejo de rever velhos médicos que o atenderam em sua infância.

(1) Portella, P. N. - blogcenat.cursos.com.br

(2) Doutorado em TO (UFScar, 1999) Mestrado em Artes (Unicamp, 2011) Pós-graduado em Cultura Digital (UFRJ, 2012)

Edgard Steffen é médico pediatra e escritor. E-mail: [email protected]