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Artroscopia

13 de Setembro de 2019 às 00:01

Tulio Pereira Cardoso

Artroscopia vem do grego arthros = articulação e scopia = estudo ou investigação. Em 1981, quando iniciei meu estágio em Ortopedia como bolsista na Inglaterra, alguns cirurgiões ingleses ainda viam o artroscópio como um “brinquedinho” -- a little toy. Essa não foi a primeira vez que a artroscopia foi vista com ceticismo. Quando Phillip Bozzini -- cirurgião de Frankfurt -- apresentou em 1806, na Academia de Cirurgia de Viena, o primeiro endoscópio, o instrumento não foi levado a sério. Iluminado por uma vela de cera -- o endoscópio de Bozzini era utilizado para visualizar o interior da nasofaringe, da bexiga, da uretra e outros órgão cavitários.

Em 1918, o Professor Takagi, utilizando um cistoscópio, realizou no Tokyo Teishin Hospital a primeira artroscopia de joelho de cadáver. Em 1932, foi o responsável pelas primeiras fotografias do interior do joelho humano via cistoscopia. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os japoneses retomaram as pesquisas com artroscopia. Os doutores Watanabe, Takeda e Ikeuchi -- discípulos de Takagi -- foram os responsáveis por grandes avanços no desenvolvimento do instrumental e da técnica.

No início dos anos 60 o Dr. Robert Jackson de Toronto no Canadá, foi para o Japão para pesquisar cultura de células e enxertos ósseos. Apresentado ao Dr. Watanabe, interessou-se pela artroscopia e foi um dos pioneiros dessa nova técnica na América. Podemos dizer que a artroscopia revolucionou a cirurgia do joelho tornando-a mais precisa, menos invasiva e portanto com menor risco. Inicialmente reservada para pequenos procedimentos como biópsias da sinovial, ressecção de corpos livres e pequenas lesões meniscais, hoje a artroscopia permite a realização de cirurgias complexas com alta taxa de sucesso. Atualmente os procedimentos são realizados em hospital sob raquianestesia e com alta no mesmo dia. Pode ser empregada no diagnóstico e tratamento de doenças articulares crônicas como algumas formas de reumatismo e artroses, assim como em lesões traumáticas agudas como as que ocorrem durante prática esportiva. As principais indicações são nas lesões dos meniscos, cartilagem e ligamentos dos joelhos.

Algumas pessoas acreditam que a cirurgia utiliza laser, mas na verdade isso não ocorre. O que de fato utilizamos são instrumentos pequenos que podem ser introduzidos na articulação por incisões mínimas, quase puntiformes, evitando cicatrizes inestéticas e acessos capsulares amplos que retardam a reabilitação. Permitimos que o paciente ande a partir do segundo dia após a cirurgia, dirija automóveis após 15 dias e volte ao trabalho de natureza leve entre 10 e 15 dias, e trabalhos mais pesados por volta de 40 dias. O retorno à prática esportiva recreativa, dependendo da localização e gravidade das lesões tratadas, varia entre três e oito semanas. As reconstruções dos ligamentos cruzados do joelho, as suturas ou reparos dos meniscos e o tratamento de lesões de cartilagem, são feitos atualmente com auxílio da artroscopia. Sem nenhuma dúvida a precisão tanto diagnóstica quanto terapêutica, com retorno mais precoce e completo ao trabalho e aos esportes foram os grandes avanços na cirurgia ortopédica, principalmente da articulação do joelho.

Dr. Tulio Pereira Cardoso é Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e tem Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.