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Alessandro Momo, um James Dean itálico

20 de Agosto de 2019 às 00:01

Paulo Edson Alves Filho

Morte precoce por paixão à velocidade, protagonista em três filmes famosos e ascensão meteórica à seleta constelação cinematográfica. São essas as semelhanças -- e somente elas -- que podem igualar o jovem ator italiano Alessandro Momo a James Dean. Assim, o título do artigo é enganoso, mas vale como ponto de partida.

A carreira de Momo começou aos 12 anos, após ser escolhido para participar de uma fotonovela juvenil italiana do “Il Giornalino”. O cinema veio como consequência: primeiro em papéis secundários, depois como protagonista em campeões de bilheteria na Itália: “Malizia” [1973] e “Peccato veniale” [1974], de Salvatore Samperi. Representou o adolescente -- com rosto angelical e modos tenebrosos -- que seduzia as personagens interpretadas pela belíssima Laura Antonelli. Depois, “Profumo di Donna” [1974], de Dino Risi, lhe conferiu o lugar entre as estrelas italianas quando ainda era adolescente.

“Alessandro mentia para todos que tinha 20 anos, até para mim”, revelou a namorada e atriz Eleonora Giorgi. Seu desabafo era seu álibi, confirmado pelos pais do ator, na investigação policial do acidente que lhe ceifou a vida na Lungotevere romana; não tinha idade legal para pilotar a Honda CB750 emprestada por ela.

Na tarde de 19 de novembro de 1974, Alessandro saía da escola, onde estudava em horário especial devido à rotina de ator, em direção à sua casa, na nobre via della Farnesina. Um caminho trivial que nunca lhe levaria ao destino.

“Não era um aluno normal”, observava um dos professores. “Como um garoto de 17 anos, com 30 milhões de liras [330 mil dólares] no bolso poderia ser?”

Entretanto, Momo era despretensioso. Citava o futebol, poker e motos como suas ocupações prediletas, nada de extraordinário para um adolescente pariolino -- termo romanesco para “burguês” -- conforme a imprensa o estampava.

Angelina Belli, também atriz no filme de Risi, refutava o que se publicava dele: “era humilde e simpático, não corrompido pelo sucesso”.

Quando entrevistado sobre a intimidade com a musa Antonelli em “Malizia”, enrubescia: “não foi nada sensual acariciar suas pernas com 50 pessoas no set de filmagem. Na verdade, aquela mão nem era minha”, justificava-se a um insistente jornalista desejoso por revelações picantes.

O filme rendeu ao diretor Samperi a acusação de corrupção de menor e a polêmica só contribuiu para o sucesso do filme.

“Morava em frente à casa de Alessandro. Um dia o vi na rua consertando a moto e perguntei se não gostaria de interpretar o diabólico Nino. Solicitei permissão a seus pais e meu vizinho acabou se tornando uma espécie de irmãozinho.”

Samperi ficou o tempo todo ao lado de seus pais no hospital, onde Momo teve cinco horas de sobrevida após o acidente. “Foi como perder um filho também”, lamentou-se.

Em 1974 Momo encarnou seu último e mais importante papel: o guia de um militar cego, interpretado por Vittorio Gassman, em “Profumo di Donna”.

O crítico Giovanni Grazzini escreveu: “O Ciccio que testemunha a rendição de seu capitão fanfarrão e o Momo que sucumbe aos 18 anos participam, como soldado de ficção e rapaz de carne e osso, de um mistério que clama pela caridade dos que sobrevivem.”

Assim como nunca retornaria à casa naquela tarde do outono, Momo nunca assistiria ao filme lançado um mês depois de sua morte, com a impressionante cena final em que desaparece gradualmente por um caminho. “Como se deixasse o mundo para trás”, conforme notou o escritor Ivano Landi.

Em 1975, no mundo ao qual Momo dera as costas, Gassman foi premiado em Cannes como melhor ator. Sob calorosos aplausos, mencionou o companheiro: “Sandrino, como nós te amávamos!”

Paulo Edson Alves Filho, professor no curso de Letras: Português/Inglês da Universidade de Sorocaba -- Uniso. E-mail: [email protected]