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Aos que se foram

09 de Abril de 2021 às 00:01

Aos que se foram Ilustração: Luitz Terra

João Alvarenga

Leitor, embora esta crônica aborde a morte, na verdade, é uma celebração da vida. Apesar da aparente contradição; no fundo, é tentativa de entender por que as pessoas partem, muitas vezes, de modo tão inexplicável. Uma coisa é inegável: certo ou tarde, pobre ou rico, todos partirão um dia. Talvez, o problema não seja a partida, mas o tempo que resta antes da viagem. Além disso, ninguém tem pressa de embarcar, mesmo que esteja entubado numa UTI ou na miséria absoluta. Mas, a fatalidade não manda recados, ou seja, a morte se diversifica: assassinatos, atropelamentos, doenças raras ou terríveis pandemias. Como explicar tantos mistérios?

É isso que o jornalista Deda Benette investiga, ao relatar, no livro “Um Minuto de Silêncio”, em tom confidencial, detalhes quase íntimos dos que se foram sem aviso prévio. Mais do que um repentino adeus, o autor presta uma singela homenagem a inúmeras personalidades sorocabanas. São pessoas que, de alguma forma, deixaram algum legado à cidade: artistas, lideranças políticas, ativistas, empresários, amigos e pessoas comuns.

Deda que, nos idos de 80, editou o Cruzeiro, não se esqueceu de ninguém, dos poderosos aos mais humildes, com referência especial à trajetória marcante de muitas mulheres. Destaca-se a figura de Mírian José Loures, ou “dona Mírian”, falecida em 2016. Por décadas, foi arquivista do jornal, num tempo em que as matérias eram recortadas e guardadas em pastas. Seu bordão era: “O que tem, tá aí”.

Assim, o autor percorre o itinerário de quem desceu à “mansão dos mortos”, a fim de recuperar traços marcantes daqueles que foram embora, muitas vezes, sem despedidas ou abraços, principalmente em tempos de distanciamento social. Mais do que falar da dor da ausência, o jornalista brinda os leitores com relatos humanizados, em que a amizade, a gratidão e o respeito são valores que ficam em relevo em textos curtos, de leitura agradável. Mais do que explicar a partida, a obra é uma tentativa de confortar os que ficaram.

(*) João Alvarenga é professor de redação e cronista.