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Ainda sobre a questão da imigração na Europa

16 de Novembro de 2018 às 12:45

Nildo Benedetti

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O Cine Reflexão está apresentando na Fundec um ciclo de filmes sobre imigração na Europa contemporânea. No dia 2/11 publiquei nesta coluna um texto introdutório sobre o assunto e na sexta-feira passada, dia 9, exibimos o filme “Bem-vindo”. Seguem aqui mais algumas informações genéricas sobre o tema.

Os anti-imigração afirmam que os imigrantes ameaçam a civilização europeia. Mas, para o historiador israelense Yuval Noah Harari, só existe uma civilização contemporânea e ela é global. Se a civilização europeia significa democracia e direitos humanos, liberdade, igualdade, fraternidade, onde encaixar o tráfico de escravos, a Inquisição e os ditadores sanguinários do século 20 como Stalin e Hitler? A Europa trouxe grandes contribuições para a humanidade em diversas áreas, mas também foi responsável por desgraças, violência e intolerância de vários tipos que viveu na sua história em todos os tempos e que exportou para o mundo em nome de valores religiosos, morais etc.

Mas é preciso distinguir os que veem na imigração uma ameaça à civilização dos que situam a ameaça no campo cultural. Muitos percebem, com razão, que existem diferenças culturais entre um chinês, um egípcio e um norueguês, diferenças que nada têm a ver com superioridade de uma cultura sobre outra. Também não veem razão plausível para que uma sociedade próspera como a norueguesa, construída com grande esforço pelos noruegueses, deva ser culturalmente invadida por imigrantes que muitas vezes têm dificuldade de se adaptar aos costumes e valores políticos, sociais, sexuais dos noruegueses.

Portanto, as posições políticas dos pró e dos anti-imigração são legítimas. Ainda está longe de ser alcançada uma solução definitiva do doloroso problema humanitário provocado pela imigração e que, ao mesmo tempo, preserve os valores culturais europeus, O radicalismo anti-imigração não solucionará a questão, porque não existem formas eficazes de impedir o rendoso tráfico de pessoas e o recrutamento de desesperados trabalhadores sem documentos; sempre existirão formas criativas de transpor barreiras e muros de proteção. A solução não será alcançada pela força, mas com procedimentos democráticos que ajustem os interesses das partes.

A emigração para a Europa próspera a partir de países paupérrimos ou em guerra tem múltiplas causas, mas alguns autores apontam para a erosão da “cidadania social”, um conceito elaborado pelo sociólogo inglês T.H. Marshall, para quem a desigualdade de condições econômicas trazida pelo neoliberalismo deveria ser atenuada por políticas sociais dos Estados. As condições básicas de sobrevivência, antes garantidas pelo Estado de bem-estar social do pós-Segunda Guerra Mundial, seriam hoje minadas pelo avanço do neoliberalismo. De fato, seria de esperar que a manutenção do estado de bem-estar social e a consequente diminuição da desigualdade econômica no interior dos países desestimularia e emigração, porque a tendência natural dos indivíduos seria a de permanecer em seus locais de origem, se neles encontrarem condições de sobreviver dignamente.

Agenda

Dia 23: “Occident” (Cristian Mungiu -- Romênia)

Dia 30: “A suíte Paraíso” (Joost van Ginkel -- Holanda)

Dia 7/12: “A promessa” (Jean Pierre e Luc Dardenne -- Bélgica)

Dia 14/12: “Para sempre Lilya” (Lukas Modysson -- Suécia)