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Advertir os que erram

29 de Setembro de 2019 às 00:01

Dom Julio Endi Akamine

Em geral nos preocupamos em aconselhar as pessoas a não transgredir as leis, mas advertir quem erra parece muito difícil. Normalmente nós o fazemos somente nos casos mais graves e evidentes de violação das regras. E em muitos casos, tentamos delegar essa tarefa a outros.

Por que temos tanta dificuldade em corrigir com caridade quem erra? Muitas vezes ela provém de nosso individualismo que estabelece que cada um é juiz de si mesmo e que ninguém pode intervir na vida do outro, principalmente se não for solicitado. Esse individualismo é hipócrita, uma vez que a todo momento nós observamos e julgamos. E como! E se não dizemos nada é, muitas vezes, por preguiça, indiferença e desejo de não ter problemas.

O que é mais respeitoso: julgar o outro e não dizer nada ou assumir a responsabilidade de ajudar o outro a se corrigir?

Infelizmente o silêncio diante do pecador nos impede de tomar sobre nós a responsabilidade pelo outro, ou seja, de amar de verdade. Advertir significa não largar quem erra com um julgamento, mas o ajudar com constância e fidelidade; consiste em estar comprometido pessoalmente com a conversão do pecador! Somente um amor fiel pode ajudar no arrependimento e na conversão.

O mandamento do amor ao próximo exige assumir a responsabilidade em relação a quem, como eu, é criatura e filho de Deus. O ser irmão em humanidade e, em muitos casos, também na fé, deve nos levar a ver no outro um verdadeiro “outro eu”, amado infinitamente pelo Senhor. Se cultivarmos esse olhar de fraternidade, a solidariedade, a justiça e a misericórdia e a compaixão brotarão naturalmente de nosso coração” (Bento XVI).

“Adverte o sábio e ele te será agradecido; instrui o justo e ele crescerá em sabedoria” (Pr 9,8s). É importante recuperar essa dimensão da misericórdia cristã. Não devemos nos calar diante do mal por respeito humano ou por mera comodidade. É preciso advertir os irmãos sobre modos de pensar e de agir que contradizem a verdade e o bem.

Corrigir o pecador é uma obra de amor porque a reprovação do cristão nunca é animada por espírito de condenação ou de recriminação. É movida sempre pelo amor e pela misericórdia e brota da verdadeira solicitude para o bem do irmão.

Todos temos a necessidade de ser advertidos quando erramos e pecamos. Devemos ter medo dos que não dizem nada quando isso acontece. Ninguém de nós pode ser deixado só, na presunção ou na falsa convicção de que nos bastamos a nós mesmos. Podar o ramo que produz fruto não é limitar nem mortificar o ramo, mas o ajudar a se tornar mais forte e fecundo.

É urgente e necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminhar juntos rumo à santidade. Afinal, até mesmo “o justo cai sete vezes” (Pr 24,16), e nós somos fracos e débeis. É um grande serviço ajudar a ler com verdade a si mesmo para melhorar a própria vida e caminhar mais retamente na via do Senhor. Temos sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa, como Deus fez e faz conosco.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.