Buscar no Cruzeiro

Buscar

A utilidade da drenagem linfática

06 de Março de 2019 às 00:01

Mário Cândido de Oliveira Gomes

A drenagem linfática é um método de massagem altamente especializado, que é realizado através de pressões suaves, lentas e rítmicas, no trajeto do sistema linfático. Por isso ajuda a desobstruir os canais linfáticos, diminuindo o inchaço (linfedema) do membro afetado. O sistema linfático é uma porção do sistema circulatório (coração, artérias, veias, capilares, etc.), sendo constituído por uma extensa rede de capilares, vasos, troncos, ductos e gânglios (linfonodos), que serve de filtro ao líquido coletado na intimidade dos tecidos, para depois despejá-los purificados no sistema circulatório.

Dentro do sistema linfático caminha a linfa, que apresenta composição semelhante ao plasma do sangue. É composta de água, eletrólitos (sódio, cloro, potássio, etc.) e de quantidade variável de proteínas que escaparam do sangue pelos capilares sanguíneos. A linfa difere do sangue por não conter os glóbulos vermelho e branco e as plaquetas. Este líquido intersticial é absorvido pelos capilares linfáticos, que aumentam de tamanho até formarem os troncos e depois os ductos, para desaguar no sistema venoso, ao nível do pescoço (veia jugular).

Assim, o retorno do sangue para o coração é feito pelo sistema venoso (veias), com o auxílio do sistema linfático, responsável pela reabsorção de líquidos e proteínas dos espaços intersticiais. Desta forma, as circulações linfática e sanguínea estão intimamente relacionadas. Aliás, as grandes partículas somente alcançam a circulação por meio dos linfáticos. Como não têm uma bomba propulsora, a linfa caminha no interior dos canalículos graças às diferenças de pressão ou por contratilidade própria dos vasos.

Os grandes coletores de linfa drenam para os gânglios reunidos nas regiões inguinais, axilares, etc., na dependência da localização. A falha no sistema de drenagem ou falência do sistema linfático provoca o aumento anormal na concentração de proteínas do interstício das células, resultando em inchaço (edema linfático ou linfedema). Quando o inchaço decorre de má formação de nascença é chamado de primário, mas quando provocado por traumas, cirurgias, radioterapia, varizes, etc, fala-se em secundário.

As pessoas portadoras de linfedema apresentam limitações das atividades diárias, além do problema estético, que compromete a qualidade de vida, como a elefantíase. Acomete grande número de pessoas, principalmente, após as cirurgias de câncer (25% das mulheres, na mama) ou processos inflamatórios e infecciosos. Por outro lado, devido ao enorme número de pessoas com insuficiência venosa crônica (varizes complicadas), o linfedema é encontrado em 15% da população mundial. O tratamento desse edema é difícil e depende de uma abordagem multidisciplinar (fisioterapia, psicoterapia, antibióticos, antiinflamatórios, fibrinolíticos, etc.), mas a cirurgia deve ser uma exceção.

Para diminuir o inchaço e restaurar a função e o aspecto do membro, assim como prevenir e tratar as infecções, tem dado resultado excelente a drenagem linfática manual, descrita desde 1892. Tal drenagem consiste numa massagem suave sobre a pele, com movimentos lentos, ritmicos, que seguem o trajeto dos canais linfáticos. A pressão deve ser leve (30 a 40 mmHG) para não produzir colapso linfático.

A drenagem pode estar associada a bandagens, contenções elásticas e inelásticas compressivas, assim como com cuidados higiênicos da pele. Todavia, a melhor prevenção é o diagnóstico precoce, estimulando o paciente a seguir corretamente todas as orientações. Assim, o tratamento bem orientado pode controlar a maioria dos casos, principalmente, se aplicado nos estágios iniciais da doença. Como diz um professor: ‘O tratamento pode proporcionar uma vida profissional ativa e um convívio social normal‘.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.